domingo, 18 de dezembro de 2022

Christian Herbst estará entre nós!!

Estou muito feliz e orgulhoso em apresentar a vocês o curso que eu sempre quis fazer, mas nunca existiu em lugar nenhum. É uma oportunidade única e imperdível, não apenas no Brasil.


Teremos um curso online ao vivo com um dos cientistas vocais mais renomados atualmente, o austríaco Dr. Christian Herbst. Que é também professor de canto e faz, como ninguém, a ponte entre pesquisa, ensino e prática de canto.

Serão dois dias de aprofundamento (28 e 29 de janeiro de 2023 - Horários: 8h30 - 17h) sobre como funcionam a respiração, os modos de fonação, os registros vocais e a ressonância para o canto clássico e popular.

O objetivo do curso é desenvolver a escuta e o raciocínio prático na hora de trabalhar os principais parâmetros envolvidos na produção vocal, facilitando a identificação de eventuais pontos a serem aprimorados nas vozes de cantores e como solucioná-los

Além da parte teórica embasada no que tem de mais atual em pesquisa em voz, o professor também oferecerá uma parte prática evidenciando a escuta objetiva e as formas de treinamento para o domínio de diferentes estilos de canto.

Inscreva-se já!! 

É, de fato, uma oportunidade única. Foi muito difícil encontrar essa brecha na agenda dele e ele não costuma ministrar cursos como esse em nenhuma parte do planeta.

 Eu tenho certeza absoluta que terá um impacto enorme na sua atuação com voz, como teve na minha quando conheci o trabalho do Dr. Herbst. Eu não vejo a hora!!!


INFORMAÇÕES PRÁTICAS:

Filiados PROCANTO e alunos do PCV ou qualquer outro curso IFV tem 10% de desconto.

Valores: 

Até 09 de Janeiro R$ 520,00

entre 09 e 17 de Janeiro R$ 610,00

entre 18 e 26 de Janeiro R$ 715,00

Pagamento por PIX (parcelado em 2x até 28/12) ou cartão de crédito em até 4x

Inscrições pelo link: https://ifvportal.com/curso-respiracao-registro-e-ressonancia-para-o-canto-classico-e-popular/

Certificado pelo Instituto de Formação em Voz - IFV

O curso será ministrado em inglês terá tradução consecutiva e participação minhas (Mauro Fiuza). 

O curso será gravado e a gravação ficará disponibilizada por 1 mês após o envio para os participantes.



SOBRE O MINISTRANTE:

Christian T. Herbst é um cientista de voz austríaco. Ele estudou pedagogia da voz na Universidade Mozarteum, Salzburg, Áustria, e trabalhou por vários anos como pedagogo da voz (Tölzer Knabenchor, entre outros).

Christian foi pesquisador visitante no Center for Computer Research in Music and Acoustics (CCRMA), Stanford University, e recebeu seu PhD em Biofísica pela University of Olomouc, República Tcheca.

Foi chefe do Laboratório de Bioacústica, no Departamento de Biologia Cognitiva da Universidade de Viena. Christian trabalhou como pesquisador de pós-doutorado no Departamento de Biofísica (grupo Prof. Jan Švec), Universidade Palacký Olomouc, República Tcheca.

O foco de seu trabalho científico está tanto na fisiologia da voz cantada quanto na física da produção da voz em mamíferos. Seu projeto "Biomecânica Comparativa da Produção de Som de Mamíferos", financiado por uma bolsa APART da Academia Austríaca de Ciências rendeu, entre outros, uma publicação na prestigiada revista Nature. É membro do conselho editorial do Journal of Voice and of Logopedics, Phoniatrics and Vocology.

Website: http://www.christian-herbst.org/


Algumas de sua publicações:

Herbst, C. T. (2020). Registers-The Snake Pit of Voice Pedagogy PART 1: PROPRIOCEPTION, PERCEPTION, AND LARYNGEAL MECHANISMSJournal of Singing77(2), 175-190.

Herbst, C. T. (2021). Registers--The Snake Pit of Voice Pedagogy: PART 2: MIXED VOICE, VOCAL TRACT INFLUENCES, INDIVIDUAL TEACHING SYSTEMSJournal of Singing77(3), 345-359.

Herbst, C. T., Hess, M., Müller, F., Švec, J. G., & Sundberg, J. (2015). Glottal adduction and subglottal pressure in singingJournal of Voice29(4), 391-402.

Herbst, C. T., Qiu, Q., Schutte, H. K., & Švec, J. G. (2011). Membranous and cartilaginous vocal fold adduction in singingThe Journal of the Acoustical Society of America129(4), 2253-2262.

Herbst, C. T. (2017). A review of singing voice subsystem interactions—toward an extended physiological model of “support”Journal of voice31(2), 249-e13.

Herbst, C. T., Hertegard, S., Zangger-Borch, D., & Lindestad, P. Å. (2017). Freddie Mercury—acoustic analysis of speaking fundamental frequency, vibrato, and subharmonicsLogopedics Phoniatrics Vocology42(1), 29-38.

Gill, B. P., & Herbst, C. T. (2016). Voice pedagogy—what do we need?Logopedics Phoniatrics Vocology41(4), 168-173.

Elemans, C. P., Rasmussen, J. H., Herbst, C. T., Düring, D. N., Zollinger, S. A., Brumm, H., ... & Švec, J. G. (2015). Universal mechanisms of sound production and control in birds and mammalsNature communications6(1), 1-13.

terça-feira, 11 de maio de 2021

Vocalizes – Você deve usar?

Já há algum tempo há uma falsa polêmica alimentada por muito marketing e uma vontade de se destacar entre aqueles que trabalham com voz que é: vocalizes vão melhorar a sua voz e fazer você cantar?

OK, todo mundo tem direito a divulgar seu trabalho como achar melhor e buscar se destacar no mercado, mas que tal fazer isso respeitando os diferentes pontos de vista e sem apelar para essas falsas polêmicas? Podemos divulgar nosso conteúdo ao invés de vender embalgens brilhantes. 

- Ta, mas por que falsa polêmica? - 

Bem, só há polêmica real se existem diferentes pontos de vista com argumentos reais, certo? Nesse caso não há e a resposta é clara, vocalizes não vão fazer você cantar. Um vocalize por si só não tem qualquer efeito na sua voz não é uma fórmula mágica ou uma receita de bolo a ser seguida. 

 - Eu sabia, então não servem para nada e não vou mais fazer vocalizes -  

Não, muito pelo contrário, você deve e será muito beneficiado se utilizar vocalizes. Entretanto, os vocalizes não terão nenhum efeito, ou terão efeito muito reduzido, se não forem desenhados para a sua voz especificamente e se não forem feitos com objetivos e estratégias muito específicas e, principalmente, da forma correta. Isso quer dizer que o vocalize precisa ser direcionado e criado para para o seu momento e objetivo definido e que sua execução precisa ser atentamente guiada, seja por um professor de canto capaz ou seja por você mesmo no seu treino diário.


- Tá, mas o que são vocalizes, então? -  

Vocalizes são ferramentas para trabalhar a voz. Não existe uma definição consensual sobre eles, alguns definem como treino de melodia somente em vogais, outros vão dizer que podem ser uma, duas ou várias notas sem texto e por aí vai. 

Na minha visão (eu, Mauro, pessoa física CPF nº....), vocalizes são sons vocais criados para focar a prática em alguma determinada função e estética (que andam sempre juntos, quer você queira, quer não) e/ou para treinar domínio e percepção musical. Para isso, eles podem utilizar uma ou diversas quantidades de notas, ritmos variados, dinâmicas variadas, direção da frase, tipos de fonação determinados, vogais, sílabas ou mesmo frases etc. Essa não é uma definição técnica, apenas um resumo de como vejo a coisa.

 

Cada elemento dos vocalizes terá uma função e essa função pode ser compreendida após muito estudo sobre fisiologia, acústica e aerodinâmica da voz e/ou apenas com um ouvido muito bem treinado e larga experiência no trabalho com o canto, os cantores e suas individualidades. Consequentemente, para entender que vocalize não é uma lista de exercícios, você vai precisar estudar e trabalhar muitos anos como professor de canto para aplica-los da forma devida.

 

Cada vogal é produzida com diferentes níveis de pressão que volta para as pregas vocais, influenciando em sua vibração. Também são produzidas graças a diferentes frequências de ressonância/formantes, que também afetarão essa vibração, o esforço fonatório e o resultado sonoro. Cada consoante será produzida com os articuladores em posições específicas e geram o acúmulo ou não de pressão de formas distintas, afetando o trabalho glótico. A ordem desses fonemas também é importante. A velocidade do vocalize vai influenciar em questões como, por exemplo, o trabalho muscular realizado e o tipo de fibras musculares recrutadas para esse trabalho. Vocalizes podem ser feitos em escalas, glissandos, notas sustentadas etc., e a direção disso, quando houver, vai utilizar diferentes quantidades de ar nos pulmões e facilitar ou dificultar cada atividade, de acordo com o objetivo, além de estimular o uso de diferentes padrões de vibração das pregas vocais.

 

Esses são alguns exemplos para que você possa entender a complexidade por trás de um “simples mamama arpejado”. A escolha entre um vocalize com “mamama” que sobe e outro com “momama” que desce, ou outro apenas sustentando uma consoante bilabial, ou utilizando “pa” em andamento acelerado, com saltos de oitava ou em grau conjunto, ou fazendo “dra” ao invés de “xu” etc. deve ser feita a partir da necessidade de cada cantor e da resposta que cada um dá a cada estímulo e, para isso, um sistema de avaliação e correção constante é necessário por parte de quem aplica e de quem executa. Essas escolhas também serão feitas de formas distintas para um cantor iniciante, que não tem propriocepção desenvolvida, e para um avançado, que já sabe entender o que acontece em seu instrumento.

 - "Mas eu prefiro realizar exercícios de função vocal ou exercícios isométricos e isotônicos com contrações concêntricas e excêntricas dos músculos adutores, abdutores e tensores intrínsecos da laringe" - Uau, que nome longo para vocalizes...

E eu nem mencionei o uso de ferramentas e estratégias acessórias, como fazer com a língua para fora, com escape de ar nasal, elevando a cabeça, girando os ombros, criando resistência extra com canudos, mão, dedo, etc.. Também não falei dos objetivos além-voz dos vocalizes, como, por exemplo, treinar melismas em pentatônicas, quando se foca em um determinado estilo e se busca criar uma familiaridade com o mesmo. Trabalhar a precisão da afinação, a musicalidade, a qualidade e fluidez do fraseado, o uso do corpo no canto, o autoconhecimento vocal a exploração da própria voz, a interpretação e por aí vai. As possibilidades são infinitas.

 

Há todo um conhecimento e um raciocínio lógico necessários para se criar e utilizar vocalizes de forma personalizada e adequada e o objetivo disso é trabalhar a voz do cantor criando nele resposta neuro-motora e e desenvolvendo a capacidade de perceber e conhecer sua própria voz, reduzindo o número de informações nas quais ele precisa se concentrar. Treinar a voz apenas com música, por exemplo, é possível também, mas a dificuldade e o tempo para o aprendizado serão, provavelmente, muito maiores. Atividades mais complexas tendem a gerar maior tensão, até mesmo muscular, e não é isso o que queremos ao treinar qualquer coisa, certo?


Pense nos vocalizes como os treinos específicos de um atleta, antes de sair jogando ele aprende todos os movimentos, todos os fundamentos, trabalha jogadas ensaiadas, faz treinos em campo reduzido, faz musculação e depois aplica esse conhecimento/comportamento criado no jogo. É a mesma coisa.

 

Vocalizes têm funções muito específicas e fazem parte de um processo de construção muito amplo, mas que para entender essa complexidade é preciso estudar e praticar a arte de ensinar alguém a cantar por um bom tempo. Não tenha pressa e lembre-se que vocalize não é “apenas lalala, mamama, mimimi sem motivo”, e se ele não funciona é porque foi mal construído ou porque aquele cantor, naquele momento, não pode fazer o que você espera que ele faça. Essa é a hora que o professor de canto e o fono que dá aula de canto precisam escolher outra abordagem que funcione para o propósito específico ou utilizar estratégias facilitadoras.

Portanto, use e abuse de vocalizes, mas saiba o que está fazendo, como está fazendo e sinta como eles funcionam em você, só reproduzir não vai te ajudar muito.

Mauro Fiuza

segunda-feira, 12 de abril de 2021

Aula de canto em tempos de Covid - Um estudo sobre os "protocolos de segurança" para cantar durante a pandemia

Alerta de Spoiler: Os protocolos de segurança não são efetivos para cantar e dar aula de canto.

Se você acha que tá tudo bem cantar e dar aulas de canto presencialmente desde que use acrílico, máscaras, face shield e distâncias de segurança, esse artigo vai mostrar que essas medidas não funcionam para impedir o contágio.


Olá! Aqui é Ian Gonçalves e eu vim falar sobre cantar em tempos de Covid.
Nesse momento complicadíssimo devido à pandemia do Corona Vírus, milhares de pesquisas são feitas diariamente, abrangendo infinitas áreas relacionadas ao tema. É claro que a vez dos cantores uma hora chegaria e esse tema seria estudado. Nesta semana, dia 11 de Abril de 2021, foi finalmente publicada a versão final de um artigo, no Journal of Voice, que estudou exatamente uma das coisas que nós mais precisávamos saber: Como os protocolos de segurança (distância, máscaras, acrílico e face shield) iriam atuar com cantores.

O artigo se chama Sources of Aerosol Dispersion During Singing and Potential Safety Procedures for Singers e está disponível no site do Journal of Voice. Ele investigou as fontes de dispersão de partículas durante o canto seguindo os protocolos de segurança.

(Imagem de um cantor puxando ar para cantar)


Em respeito à pandemia do Corona Vírus, cantar em conjunto foi visto como uma atividade com altíssimo potencial de transmissão do vírus. Apesar disso, ainda não tínhamos algum estudo detalhado sobre isso para que seja visto exatamente o que acontece com os aerossóis durante um canto seguindo os protocolos de segurança.

Como esse estudo foi feito? 

Cantores de um coro profissional de Baviera inalaram uma substância de cigarro eletrônico para que, ao cantar, a trajetória das partículas pudesse ser rastreada. Os cantores cantaram em diferentes posições de cabeça, com diferentes textos e articulação, usaram máscaras diferentes, face shield e acrílico.

Esse estudo foi de extrema importância pois, apesar de severas recomendações de pesquisadores desde o início da pandemia, a migração para aula de canto online não foi tão respeitada assim.

Esse estudo saiu essa semana, mas não estivemos mal informados. Foi dito em Julho de 2020, pela NATS, “There is no safe way for singers to rehearse together until there is a COVID-19 vaccine and a 95% effective treatment in place.”.

Foi alertado também pelo CDC - Centers for Disease Control and Prevention: "Singers Could Be Virus Super-Spreaders".

Além disso, versões preliminares desse estudo que estamos vendo hoje já estavam disponíveis desde o ano passado.

Mesmo assim, sabemos o quanto os professores de canto foram pressionados por diversas escolas no Brasil para se arriscassem dando aulas presenciais, mesmo em meio a um número que indicava milhares de novas mortes por dia, em eterna crescente (tudo isso sem um aumento nos pagamentos, sem seguro de vida, sem transporte privado bancado pelas empresas responsáveis pra proteger seus funcionários e suas famílias). A situação dos professores de canto já não era fácil antes da pandemia, pois é uma profissão sucateada pela maioria das escolas, que não pagam nem o transporte e nem o almoço para o professor. 

A situação dos professores de canto já não era fácil antes da pandemia, pois é uma profissão sucateada pela maioria das escolas, que não pagam nem o transporte e nem o almoço para o professor. Após a pandemia a situação continuou a mesma, só que agora com riscos de morte, hehe. Quantas vezes não me perguntei se realmente valia a pena arriscar a mim e a minha família pra ganhar, por aula, menos que um lanche do Subway enquanto o aluno deixava fortunas para a escola, que arriscava minha vida como se ela fosse algo pouco significante. Principalmente após ver relatos de amigos próximos que, após contraírem a doença dando aulas nessas escolas, tiveram que continuar dando aulas mesmo assim (online) para receber algum valor no fim do mês (pois elas, as escolas, não iriam paga-los caso ficassem em repouso se recuperando da doença - que foi contraída provavelmente por culpa da própria escola).

Depoimento anônimo de uma professora que dá aula numa rede famosa de escola de música:

"Me pediram pra dar aulas presenciais durante a pandemia, com as tais "medidas de segurança". Eu tive o Coronavírus mesmo assim e, mesmo com atestado, eu dei as aulas online pela escola. Caso eu não desse as aulas, eu não receberia. Mesmo com atestado médico, só recebemos por aula dada. Hoje, com onda roxa na cidade, alguns alunos decidiram não ter aula online. O número de alunos reduziu cerca de 50% e eu só recebo pelos alunos que decidirem fazer aula online".

É sempre importante comentar sobre certas injustiças, porém, como o foco do artigo é outro, vamos voltar. hehe

Em 2020 já foi publicado que cantores estavam associados a um alto potencial de transmissão do vírus (Exhaled respiratory particles during singing and talking - 2020). Foi visto também que a emissão das partículas aumentava de acordo com o aumento de volume. Sabemos que cantores possuem, em sua maioria, volumes muito mais altos de voz por conta de níveis muito maiores de pressão subglótica.

Em diversos experimentos foi visto que, mesmo com distâncias de 1.4 metros ou mais, houve uma grande dispersão do vírus em todas as direções. Estudos anteriores mostraram que as máscaras, em situações de fala e conversação, reduziam bastante a emissão de partículas entre indivíduos, apesar de existirem diferentes tipos e categorias de máscaras com diferentes tipos de eficácia. Isso foi suficiente para que cantores se arriscassem cantando usando alguma delas, mesmo com elas prejudicando grandemente o som e sem sabermos se elas são eficazes, de fato.

Lembre: As máscaras são feitas para situações de silêncio. Elas permitem que você responda alguém, em baixo volume, sem espalhar o vírus, mas elas são feitas para o silêncio. Cantar com uma dessas máscaras fica meio óbvio, pra qualquer um que experimentar, que não funciona. Quem já esteve em uma UTI sabe como lá é um local silencioso. 

O teste foi feito com cantores profissionais que exerciam o canto coral em tempo integral. Eles cantaram um trecho da nona sinfonia de L. W. Beethoven. O estúdio usado era ventilado a cada nova etapa para limpar todos os resquícios da etapa anterior. E o que foi visto no experimento?

  • Consoantes e Vogais:
    • Todos os participantes tiveram de emitir as consoantes /p/, /t/, /k/, /ʃ/ e em seguida as vogais /a/, /e/, /i/, /o/, /u/.
    • As consoantes surtiram efeitos sobre a dispersão de partículas por conta das suas características plosivas e fricativas.


    • A distância percorrida pelas partículas foi menor durante as consoantes do que com vogais.
    • O tempo 0, no gráfico, representa o momento em que os participantes pararam de fazer sons. 
    • Mesmo após parar de cantar, a nuvem de vapor continuou se distanciando para todos os participantes (isso aconteceu em todas as etapas do processo).
  • Articulação exagerada:
    • Os participantes tiveram então de cantar o trecho da música de três formas: Com articulação super exagerada do texto, depois com articulação "normal" e depois cantar a melodia com uma única vogal, sem consoantes.


    • A distância da nuvem de fumaça foi maior de acordo com a intensidade das consoantes. Exagerar o texto fez com que a fumaça fosse mais longe do que cantar normalmente e também fazer com apenas uma vogal.
    • Foi apontado também que articular o texto fazia a máscara mexer de lugar a cada nova palavra e isso aumentava o escape de partículas.
  • Posição da cabeça:
    • Um dos participantes cantou o trecho da música com diferentes posições e ângulos de cabeça (olhando pra baixo, pra frente e pra cima).


    • Cantar olhando para baixo foi o ângulo que menos dispersou a nuvem de fumaça.
  • Distâncias de "Segurança":
    • A: Eles agora então cantaram a frase “Freude, schöner Götterfunken, Tochter aus Elysium”, da nona sinfonia, um de frente para o outro por 3 minutos, numa distância de 3 metros um do outro (distância muito maior do que muitos lugares usam como protocolo de segurança).
    • B: O mesmo experimento foi feito por 1 minuto e 40 segundos numa distância menor, de 2.6 metros um do outro (ainda maior do que muitas instituições de ensino de música usaram como protocolo de segurança).


    • Neste experimento, em 3 metros de distância, a nuvem não entrou no espaço do outro.
    • Porém, a 2.6m de distância a nuvem de fumaça chegou na boca do outro cantor após 1:30 minutos cantando.


    • Em seguida ambos cantaram simulando as cadeiras de um coro, com 1.5m de distância e uma diferença de 45cm de altura.
    • Essa foto foi tirada após 50 segundos cantando.
    • 13 segundos após parar de cantar, as duas nuvens de fumaça se misturaram uma na outra, envolvendo os dois cantores.
    • O estudo também concluiu e afirmou que o menor impulso de ar já é suficiente para movimentar a nuvem de fumaça de um lugar para o outro, mesmo após ter parado de cantar.
  • Diferentes tipos de máscaras:
    • As máscaras são os itens mais usados durante a pandemia. Elas impedem, em situações normais de fala, as partículas de saliva de se espalharem pelo ar em grandes quantidades. Isso levou muitos cantores e escolas de música a manterem as atividades presenciais, desde que houvesse o uso das máscaras. A máscara cirúrgica foi adotada pela maioria dos cantores por ser a mais confortável e não barrar muito o som. Mas... Será que realmente funciona para contem o vírus?
    • 3 tipos de máscara foram testados: (A) Máscara cirúrgica, (B) FFP2 (semelhante a n95, bico de pato) e (C) uma máscara de pano comum.


    • Apesar de a disseminação da nuvem de fumaça ter sido menor com as máscaras, nenhuma delas impediu que elas fossem espalhadas pela sala.
    • A máscara mais efetiva foi a FFP2, apesar de não ter barrado a fumaça.
    • A máscara cirúrgica teve um desempenho desastroso porque ela tem muito mais frestas que as outras máscaras.
  • Face Shield:
    • Os efeitos do Face Shield também foram investigados

    • O Face Shield bloqueou a nuvem inicialmente, porém, em menos de 4 segundos ela se dispersou por toda a região em volta.
    • O estudo concluiu que máscaras e Face Shields não são suficientes para bloquear a dispersão das partículas contaminadas.
  • Parede de acrílico e parede de partituras:
    • Uma parede de acrílico pode ser uma barreira de proteção, assim como segurar as partituras na frente da face. É muito comum vermos uma nas mesas de restaurantes. Isso também foi investigado.





    • Como todos aqui já estavam imaginando, segurar a partitura na frente da boca não conteve a nuvem de fumaça, nem o acrílico.
    • Apesar disso, o acrílico conseguiu segurar por mais tempo uma maior quantidade. Porém, devido ao alto nível de pressão subglótica e a duração de uma música ser constante, a fumaça acabou se espalhando pelo ambiente.
A conclusão desse estudo é surpreendente, mas não é nenhuma novidade. Desde o início da pandemia foi dito que não existe forma segura de cantar em público antes de haver uma vacina.
As máscaras foram pensadas e criadas para serem efetivas em situações de silêncio e pouca conversa. Usar máscara para cantar é uma ideia completamente fora da realidade. Nem precisa de um estudo científico pra perceber que grande parte do ar sai para fora da máscara com bastante força ao (tentar) cantar com uma delas.

As paredes de acrílico foram também criticadas por não impedirem a nuvem de se espalhar pela sala, pois ela não cria um ambiente totalmente fechado e o cantor vizinho também receberá a nuvem alheia em questão de poucos minutos.

Porém, agora não temos mais desculpas.

O estudo ressalta que as partículas continuam se movendo pelo ambiente, sendo mais um risco para quem ficar no local. As medidas de segurança são pensadas para situação de não-aglomeração e de silêncio, onde as pessoas passam pelos locais de forma passageira. Não são feitas pra você ficar lá por horas usando seu pulmão ao máximo, hehe. São efetivas para que você entre e saia de um lugar com segurança. Para um professor de canto, que ficará na sala por horas seguidas e atenderá diversos alunos, o risco é gigantesco, pois as partículas de saliva se espalham pela sala ao longo do tempo. Ou seja, não basta só barrar elas de chegar até você. A pessoa que se manter no ambiente por muito tempo também se contaminará. Essa informação sempre foi muito óbvia. NY Times afirmou que as partículas contaminadas se espalham por um ambiente da mesma forma que o cheiro de um bolo no forno se espalha pela casa. Saber disso e, mesmo assim, arriscar a vida dos professores (obrigando-os a dar aula presencial), dos familiares dos professores, dos alunos e seus familiares, é uma escolha um tanto difícil de reagir sem perder a postura. Ainda mais sabendo o quão sucateada é a profissão de professor de canto no país. 

O que você achou deste experimento?
Você foi pressionado a dar aulas presenciais em alguma escola, mesmo em meio à uma trágica situação onde morrem mais de 4 mil pessoas por dia?

Você pressionou professores de canto a darem aulas presenciais nessa situação?

Você conseguiu se manter online e em segurança no ofício de professor de canto?

Aos alunos e pais de alunos: Não parem as aulas. Não parem com as escolas e nem com os professores particulares. Experimentem as aulas online. Uma aula de qualidade vai ser incrível em qualquer lugar.

Deixe um comentário contando sua experiência!
Nós, professores de canto (mas também os alunos), precisamos nos manifestar contra as aulas de canto presenciais enquanto não tivermos alguma vacina disponível. 

Este estudo precisa chegar ao maior número possível de pessoas, principalmente professores e alunos, pois sem uma união entre essas duas partes, dificilmente as aulas presenciais serão interrompidas.

Importante: No curso de Pedagogia e Ciência Vocal, do Mauro Fiuza, tem um módulo com algumas aulas dedicadas apenas ao ensino de aula online.

Meu instagram: @IanGGoncalves
Meu email: ian.voz@icloud.com

Estúdio de Voz - Professor Mauro Fiuza

domingo, 17 de janeiro de 2021

A diferença entre 13 tipos de exercícios de trato vocal semi ocluído!

Olá, aqui é o Ian Gonçalves e eu vou falar sobre um tema interessantíssimo! A diferença entre 13 tipos de exercícios de trato vocal semi ocluído. Temos muitas possibilidades. Muitos tipos. O trilo de língua, trilo de lábio, o canudo de suco, canudo de pirulito, enfim, todos eles tem propriedades e reações únicas e saber o que cada um desses tem de diferente ajudará bastante na hora de escolher qual usar e quando usar. 


Em 2014 foi publicado um artigo escrito por Lynn Marxfield, Ingo Titze, Eric Hunter e Mara Kapsner-Smith chamado “Intraoral pressures produced by thirteen semi-occluded vocal tract gestures”.


Em resumo, a ideia principal era medir a pressão dentro da boca entre os 13 tipos escolhidos de ETVSO (sigla para “Exercício de trato vocal semi ocluído).



Antes de ver os resultados do estudo é interessante entender um pouco mais sobre “para quê eles servem”. Os ETVSO são principalmente usados pois os efeitos principais são reduzir atrito entre as pregas vocais, estimular uma produção vocal mais saudável, estimular uma maior eficiência entre fonte-filtro e maior poder acústico com menor esforço na voz.

Além disso foi visto por Guzman numa outra pesquisa, chamada “Laryngeal and pharyngeal activity during semioccluded vocal tract postures in subjects diagnosed with hyperfunctional dysphonia. 2013” que ETVSO levam para a produção vocal uma configuração de laringe mais estável, uma abertura mais estreita do tubo epilaríngeo (gerando maior poder acústico na região em volta do 4º formante) e um espaço faríngeo mais largo (o tal do espaço que tanto pedem pra nós abrirmos pra cantar).



Falando ainda sobre esse "espaço": Pedagogicamente falando, é muito útil fazer a pessoa executar alguma escala com a bochecha cheia de ar, deixando vazar só um pouquinho de ar pelos lábios. Isso vai levar o aluno a inflar seu trato vocal enquanto canta uma melodia e vai fazê-lo sentir e perceber muito bem esse espaço.


É bastante coisa, não é? Seria muito ruim (pra um cantor e para os alunos) deixar esse tipo de técnica pra lá.


Enfim, o artigo!

O estudo da postagem de hoje é em relação aos diferentes efeitos desses exercícios na nossa voz.

O grupo de pesquisa pegou 30 exercícios diferentes para medir seus efeitos em 20 pessoas (10 homens e 10 mulheres) de diversas idades (de 20 a 72 anos). Todos eles com voz saudável e tendo feito no mínimo 1 ano de aula de canto. 


Os dados foram medidos com microfone condensador, EGG e por um aparelho medidor de pressão intraoral, da Glottal Entrerprises, chamado PT-25.


Os ETVSO analisados foram os da lista abaixo, e eles já estão organizados em uma ordem de menor para maior pressão intraoral. Essa pressão é a que a pessoa irá sentir ao usar cada um destes. É a pressão que ocorre dentro da boca, que faz parte do ar voltar e inflar o trato vocal.



  • /m/ (bocca chiusa)
  • /n/ (bocca chiusa)
  • /u/ (com biquinho)
  • Vocalize com Canudo Largo
  • /z/ (fricativo)
  • /j/ (fricativo)
  • Trilo de língua (algumas pessoas tiveram dificuldade)
  • /b/ (com bochecha cheia vazando um pouco de ar)
  • /v/ fricativo
  • Trilo de lábios (algumas pessoas tiveram dificuldade)
  • Canudo pequeno, com 3.5mm de diâmetro e 14.1 cm de comprimento
  • Raspberry (vibração de língua com ela pra fora, no lábio inferior)
  • Canudo comum (5mm) na água a 7cm de profundidade


Foi visto também que os valores foram diferentes entre cantores e não-cantores. Isso provavelmente se deve ao fato de que cantores treinados já possuem um controle maior da execução de cada exercício e fazem as coisas de forma mais consciente.

Segundo esse artigo, por exemplo, soprar num canudinho fino gera uma pressão maior do que fazer uma vibração de lábios.

Existe um exercício superior ao outro então? Não. Cada exercício tem um efeito específico e deve ser usado com consciência para atingir os objetivos desejados. A vibração de lábios, por exemplo, além de auxiliar na manutenção do fluxo de ar, auxilia a relaxar os músculos da face. O Raspberry ajuda a relaxar a base da língua, etc. Coisas específicas que devem ser pensadas de forma estratégica para resolver os problemas dos alunos.

Existe também uma relação dessas pressões com os modos de fonação. Por isso é muito importante estudar e se capacitar nesse assunto, pois ele costuma ser muito eficiente e resolver muita coisa. (O curso PCV, deste site, coordenado pelo Mauro Fiuza, tem um módulo inteiro de um mês só pra tratar desse assunto).

Esse artigo nos deixa evidências de que os ETVSOs variam significantemente entre eles, levantando a questão: “Qual é o melhor?”, “qual é o mais adequado para cada coisa?”, etc.

Eles são excelentes para diversos tipos de treino. Tanto para aquecimento, quanto para treino de técnica, quanto para treino de condicionamento. Se for bem usado, trará resultado reais e incríveis no trabalho vocal. Não é “só marketing” quando temos tantas evidências a favor. Nesse artigo e em outros foi mostrado como eles realmente são eficientes.


O mais importante, para o professor, é buscar algum curso que o capacite em usar esse tipo de técnica. O PCV, do Mauro Fiuza, faz isso com excelência. Entre em contato para saber sobre abertura de uma nova turma.


Nos vemos num próximo texto!


Ian Gonçalves,

@IanGGoncalves / ian.voz@icloud.com

sábado, 2 de janeiro de 2021

Exercícios com canudo e evidências científicas

Oi pessoal, aqui é o Ian Gonçalves e trago mais uma postagem pro site.

Como estamos em tempos onde esse tipo de exercício tem se tornado cada vez mais popular, torna-se necessária uma maior divulgação científica sobre esse assunto. Estou aqui para dar argumentos favoráveis a essa ideia e esse artigo vai ajudar nisso. (Caso algum dia surja algum tipo de disputa desnecessária sobre o tema, deixe para a ciência resolver, como já disse o Mauro Fiuza uma vez aqui no site, no artigo sobre fisiologia).

Em tempos recentes foi publicada uma tese de doutorado escrito por Greta Wistbacka, chamada Oral pressure and flow feedback components in semi-occluded vocal tract exercises

(Esse tema é bastante desenvolvido no curso do Mauro Fiuza sobre Pedagogia e Ciência Vocal.)

Eu vim trazer alguns pontos interessantes sobre um capítulo desta tese, que falou justamente sobre exercícios com canudo no ar. “Canudo no ar” se refere a exercícios com canudo sem que eles estejam. submersos em um recipiente com água, por exemplo.

Nesses casos, o principal fator que determina os efeitos desses exercícios é o diâmetro dos canudos. Ou seja, se ele é mais fininho ou não.

Estudos foram feitos analisando diversas categorias de efeitos nas pessoas que usam esses exercícios e agora vou listar eles aqui, de acordo com a tese publicada por Wistbacka. Lembrando que, segundo mencionado por Ayssa Santos (2020) em artigo, é importante fazer exercícios de trato vocal semi-ocluído por pelo menos 1 minuto para que ocorram efeitos na voz.

“Pressão retroflexa”:



Nesses exercícios, a resistência no fluxo de ar tem relação com a pressão que volta para dentro do trato vocal, causada pela semi oclusão ao ter que soprar por um canudo. Como o canudo não muda de tamanho e largura durante uma escala, ele oferece uma resistência fixa o tempo inteiro e isso é muito útil para treino de técnicas vocais, pois não dá pra “roubar nos agudos”. hehe

Se o canudo for mais fino, a pressão de volta é maior. Isso é abordado com muitos detalhes num artigo de Marxfield que irei comentar aqui mais pra frente no site.

Como foi investigado por Conroy et al (2014), fonação com canudo leva a uma redução no índice de Phonation Threshold Pressure (PTP). Esse nome se refere ao mínimo esforço necessário para se produzir um mesmo som. Abaixar esse índice é um objetivo valioso, pois conseguir fazer um mesmo som com menos esforço e atrito vai levar a uma maior saúde vocal, menos fadiga e maior controle e flexibilidade da voz. Quando a dificuldade e o cansaço diminuem, conseguimos fazer mais coisas com a voz, não é mesmo?

Trato Vocal:

Após investigações feitas por Guzman usando EGG, tomografia e ressonância magnética, alguns efeitos foram observados em cantores após exercícios com canudos no ar.

  • Maior espaço na cavidade oral;
  • Maior espaço faríngeo;
  • Maior espaço no tubo epilaríngeo
  • Redução no espaço velar
  • Palato se mantendo elevado 
  • Maior volume das cavidades orofaríngeas
  • Acréscimo no comprimento do trato vocal
  • Redução da posição vertical da laringe (abaixamento)
  • Fechamento da passagem nasofaríngea (tirando a nasalidade da voz)
Os benefícios são muitos!
Aqui deixo uma observação: Todos esses benefícios acima foram relacionados ao trato vocal em si e não à prega vocal. Isso em si já se contrapõe a certas ideias de que esses exercícios de trato vocal semi-ocluído (ETVSO) só servem para treinar o condicionamento das pregas vocais, dos músculos da laringe e mais nada. Como essa ideia é disseminada, essa observação é importante de ser feita.

Efeitos Acústicos:


Um termo mais acadêmico para essa “pressão retroflexa” é a “impedância”. Efeitos acústicos foram observados após exercícios com ETVSO. Um deles é um boost acústico na região dos formantes 3, 4 e 5, chamado por muitos de “região do twang”. Esse efeito, com alguns ajustes (e muito treino), pode levar ao que é chamado de “formante do cantor”. Um bom uso desse resultado acústico dá um poder muito grande na voz sem que a pessoa precise fazer mais força pra cantar. Segundo J. Sundberg, um uso muito eficiente dos formantes pode aumentar o volume de uma voz em até 100x sem que a pessoa precise aumentar o esforço.

Segundo Story et al (2000), adicionar um tubo artificial ao nosso trato vocal irá afetar todo o comprimento do mesmo, mudando o local de sensações das ressonâncias. 

Outro efeito foi que, em canudos mais largos, foi detectado o efeito de redução no consciente de contato das pregas vocais. Ou seja, houve uma redução no atrito entre as pregas vocais para se produzir um mesmo som (ou até melhor. Afinal, um canto mais conforto pode muitas vezes resultar num som “mais bonito”).

Uma outra observação foi feita em 1992 por Laukkanen: Um aumento de 1 a 3 dBs no som após exercícios com canudo. Isso. corresponde a uma sensação acústica de aproximadamente “dobrar o volume”. Esse foi um efeito imediato na voz, sem um aumento de esforço.

Aqui vale uma outra observação pedagógica: 

Existe uma ideia pedagógico-vocal de “canto com volume reduzido”, onde o cantor canta “baixinho e saudável” e o cantor confia que o microfone vai fazer esse baixo volume ser ouvido por todos.

É excelente! Apenas há uma problemática nessa questão que deve ser sempre levada em consideração: Conforme um cantor vá se tornando mais eficiente, há a possibilidade de que seus sons emitidos fiquem mais potentes, ou seja, mais altos. Esse efeito acontece por causa de uma maior eficiência na manipulação do trato vocal, que manipula e estimula ressonâncias, podendo amplificar o som produzido sem que tenha um aumento no esforço (como foi visto acima) e também por uma maior eficiência glótica.

Nesse caso, se não tivermos cautela, corremos o perigo de estarmos “corrigindo” um ponto que não está precisando de correção, mexendo na técnica de um cantor que está cantando “alto demais” por estar sendo muito eficiente e não necessariamente “berrando”. 

Uma técnica muito eficiente pode trazer um maior poder acústico na voz do cantor. Ao tentarmos “corrigir” isso, caímos no risco de atrapalhar uma técnica saudável e bem ajustada de um bom cantor e acabar aumentando a tensão dele. Acabaríamos fazendo ele “reduzir volume” apertando e tensionando tudo, sendo que ele na verdade estava com uma técnica saudável e em dia.

Logo, sabendo disso, devemos tomar cuidado para saber diagnosticar corretamente. “O cantor está cantando meio alto... Seria tensão ou eficiência?” Saber responder essa pergunta irá te impedir de cometer alguns erros na hora de cuidar da voz de um cantor.

Enfim... Muita coisa, não é? E essas informações são apenas algumas. Existe tanta evidência científica disponível a favor dos ETVSOs que é impossível ler todas e ter uma vida normal, hehe.

Sinta-se a vontade para pesquisar e ler artigos sobre esse tema. No site do Journal of Voice tem artigos para uma vida inteira só sobre isso.

Uma observação importante:

Esse artigo trouxe evidências científicas para defender o uso de ETVSO,  mas não ensinou sobre seu uso correto. O objetivo desse artigo foi mostrar evidências de que eles são realmente importantes e muito úteis. Não é recomendável fazer uso de ETVSO sem um treinamento adequado para isso. O curso do Mauro Fiuza ensina e capacita os alunos ao uso dessa categoria de exercícios.

Eles, se usados de forma errada, não atingem os objetivos desejados e ainda podem trazer danos para o cantor.

Faça aulas com alguém habilitado a usá-los, ou habilite-se.


Fico por aqui e até a próxima!

Ian Gonçalves (@IanGGoncalves / ian.voz@icloud.com)

segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

Gargarejo como pré aquecimento para voz!

Olá!

Aqui é o Ian Gonçalves e acabo de trazer mais um aprendizado interessantíssimo para nossa coluna #CantoComEvidência (hashtag que usarei no instagram também para divulgar esses posts).

Em 2020 foi publicado no Journal of Voice um artigo feito por Amabelle Ayssa, Patrícia Balata, Geová Oliveira de Amorim, Ana Clara Amorim, Hilton Justino e Leandro Pernanbuco, chamado Effects of Voiced Gargling on the Electrical Activity of Extrinsic Laryngeal Muscles and Vocal Self-assessment.


E que nome enorme! Traduzindo de forma mais simplificada, ficaria “Efeitos do gargarejo com voz na atividade dos músculos extrínsecos da laringe”.


Vou comentar também alguns pontos interessantes ditos no artigo. O primeiro ponto importantíssimo é que “a mobilidade das pregas vocais resultam da ativação de complexos grupos de musculaturas intrínsecas e extrínsecas, além da participação do fluxo de ar pulmonar e dos efeitos aerodinâmicos da fonação.”


É muita coisa envolvida na nossa voz. Não é apenas assunto de pregas vocais e laringe. O corpo é um conjunto que funciona muito bem se usado com boa sinergia entre todas as suas partes.


Um dos principais alvos de um Exercício de Trato Vocal Semi Ocluído é aumentar a eficiência da interação entre fonte (prega vocal) e filtro (trato vocal), além de reduzir níveis de atrito entre as pregas vocais para um mesmo som, minimizando os riscos de lesões e fadigas.


E advinha só... O gargarejo é também um exercício de trato vocal semi ocluído! Professores de canto não podem ver uma micro oportunidade de criar um novo tipo de treino que já estão lá testando.


O gargarejo pode ser feito com voz ou sem voz. E é por isso que eu coloquei “Gargarejo Musical” no título. 


Segundo o artigo, a barreira de água que o gargarejo cria mobiliza a mucosa das pregas vocais, o velo e a base da língua de forma a estimular uma expansão do trato vocal e também um “efeito massagem” nos pilares da faringe. “Efeito massagem” é um tema interessante para se falar futuramente. 


O gargarejo, em pesquisas anteriores, tem indicado efeitos como uma melhora na frequência fundamental, aumento na intensidade e também uma emissão mais clara e confortável. São efeitos bastante desejáveis para um cantor, não é?


Ele também pode ser usado para incentivar a fonação fluida, que é uma fonação mais saudável, confortável e leve (você pode ver o artigo sobre Modos de Fonação clicando aqui). É a fonação com maior “economia vocal” (se fizer direito hehe) e, apesar de nem todos cantarem com esse tipo de voz, ela é muito útil para começar um aquecimento vocal com o pé direito.


Uma coisa importantíssima citada no artigo é que a qualidade da voz é indiretamente modificada pelas ações dos músculos extrínsecos da laringe. Entenda: O seu professor não está gastando tempo de aula à toa quando para tudo pra fazer algum alongamento para soltar a tensão no seu pescoço. hehe


Aliás, alguns casos sérios de disfonia (leia-se “problemas vocais”), principalmente causados por usos inadequados da voz, podem estar associados a um sobre-uso desses músculos. Eles, causando tensão desnecessária, elevam a altura da laringe além do necessário e podem causar dores em volta da laringe (aliás, enxaquecas também).



Então, uma dica: Nos seus treinos, busque sempre cantar sem deixar os músculos e veias saltando loucamente pra fora. Se conseguir, é um sinal de canto sólido, consciente e relaxado.


E o artigo?

Então, sabendo de todas essas coisas, 20 pessoas entre 20 e 56 anos participaram de um experimento para medir os efeitos do gargarejo na musculatura extrínseca. (Metade deles possuíam problemas vocais).


O experimento consistia em fazer 1 minuto de gargarejo com uma nota grave e confortável na vogal /u/, com nota sustentada, com pausas durante o tempo (pois é impossível fazer isso por um minuto seguido hehe).


A atividade da musculatura supra-ióidea (embaixo da língua) e infra-ióidea foi medida por eletrodos (antes, durante e depois do exercício).


E os resultados?

Os resultados foram diferentes entre quem tinha problemas vocais e voz saudável. Apesar disso, todas as atividades musculares caíram após os exercícios. Obs, nos resultados observados, a atividade muscular caiu mais significantemente nos supra-ióideos. Os resultados e a % de relaxamento muscular variaram do lado esquerdo e direito da laringe, o que sugere a possibilidade de uma falha no experimento. E realmente houve uma falha. No final do artigo ela é mencionada:  Os participantes não ficaram perfeitamente alinhados para fazer os testes. Apesar disso, essa falha não é capaz de invalidar a pesquisa e as conclusões. 


Mesmo assim, a falha é exposta pelos próprios autores, pois a ciência precisa ser sempre 100% transparente e livre de egos. 


Outro efeito percebido pelos dois grupos (pessoas com problemas vocais e pessoas com voz saudável) foi uma maior qualidade vocal e um maior conforto na voz depois do exercício.


Uma das possíveis explicações é que, ao fazer o gargarejo, a posição estimule um alongamento da musculatura extrínseca. Essa musculatura dá suporte para os músculos intrínsecos encurtarem ou alongarem as pregas vocais, além de afetar a participação dos articuladores do nosso trato vocal. Logo, se a tensão desses músculos cai, é bem favorável para cantar.


Os efeitos de 1 minuto deste “gargarejo musical” levam essas musculaturas extrínsecas a um maior relaxamento e, por consequência, a um canto mais relaxado e saudável. 


O suave e consistente fluxo de ar que é estimulado pelo exercício estimula um relaxamento nas musculaturas da produção da voz pois, se estiver tenso, o gargarejo vai começar a falhar. Um outro efeito do exercício é que ele induziu a voz para um estado de maior clareza e qualidade.


Foram reportados efeitos como:


  • Voz mais “aberta”;
  • Voz mais “clara” (no sentido contrário ao da “voz fosca e opaca”)
  • Menos esforço pra falar

Todos esses efeitos são bem comuns em exercícios de trato vocal semi ocluído.


Essa musculatura extrínseca não produz a voz, mas está o tempo todo participando indiretamente. Ela é responsável pela manutenção da posição da laringe, pelo enrijecimento do pescoço, pela estabilidade na voz e por maior conforto vocal.


Nunca deixem de pensar na musculatura extrínseca. Ela é essencial para uma boa produção vocal.

“É possível que o gargarejo ajudou a reduzir o nível de tensão muscular e, por causa disso, levou a uma produção mais relaxada do mesmo som”, disse no próprio artigo


Ou seja, você  é levado a fazer a mesma coisa só que com menos esforço e isso leva seu canto para um patamar mais saudável.


Concluindo:

Se você soubesse de um exercício que só gastasse 1 minuto e que reduzisse bastante a tensão da musculatura extrínseca, não gostaria de usá-lo antes de aquecer?

Que tal fazermos testes em casa e depois relatarmos aqui nos comentários os efeitos sentidos  pelo exercício? Meus alunos gostam muito. Tente você também!


É um minuto que pode ajudar todo o treino a ser mais eficiente.


Muito obrigado e até a próxima!


Ian Gonçalves,

@IanGGoncalves

ian.voz@icloud.com