terça-feira, 15 de maio de 2012

A história da voz e do canto - parte 3/4

Em 1723 foi editado o tratado escrito por Pierfrancesco Tosi, cantor, professor de canto e compositor. Tosi era castrato (cantores que eram castrados quando jovens, antes da muda vocal, para preservarem a voz aguda – Assistam "Farinelli, il castrato". Filmaço) e escreveu para outros castrati (plural de castrato). E nele defendia o treino de ambos os registros e a união entre eles, creditando à falta deste treino a perda de “beleza vocal”.
Em 1741 Antoine Ferrein (1693-1769) comparou as pregas vocais com cordas de violinos, as rotulando como “cordas vocais”, nome usado (erroneamente) ainda hoje. Ele observou que as notas variam de acordo com as vibrações dessas cordas.

        Do filme "Farinelli, il castrato"

Os castratti eram sempre os destaques das óperas, com suas vozes de contralto e as vezes soprano. Aliás se pensarmos em classificação vocal, o tenores, em sua origem, eram aqueles que tinham a voz grave, que deveriam manter o som (do italiano tenere). Depois surgiram outras duas vozes, a dos Contratenores Bassus (que cantavam mais grave ainda, e se tornariam os baixos de hoje) e os Contratenores Altus (que cantavam mais agudo, e daí surgiram os contratenores falsetistas e os contraltos, que eram homens). Soprenos vieram da voz ainda mais aguda que OS contraltos. Mezzos, barítonos e contraltos sendo voz feminina vieram depois.

No final do século XVIII os autores já falavam em 3 registros vocais para as mulheres e 2 para homens.

Em 1816 Ludwig Mende (1779-1832) observou pela primeira vez a laringe de uma pessoa viva – uma tentativa de suicídio com pescoço cortado (tem que aproveitar as oportunidades).
Carl Lehfeldt, em 1835, disse que o falsete (aquela voz aguda de desenho animado) vinha de vibrações restritas às bordas das "cordas vocais".

Durante o século XIX muitas publicações surgiram, dando conta de inúmeros registros e tipos de vozes.
Com a teoria mioelástica, Johannes Müller (1801-1858) confirmou que a voz é produzida pela corrente de ar que vem dos pulmões acionando, de forma passiva, a vibração das pregas vocais.
Em 1814, Liskovius diz que o movimento das pregas vocais é horizontal, e não vertical como se pensava.

Foi em 1829 que Manuel Garcia II, com 24 anos, após ter de se aposentar dos palcos por abuso vocal, começou a lecionar canto. Anos depois ele teve a ideia de refletir a luz do Sol em sua laringe para poder observá-la com um espelho de dentista, e em 1855 apresentou seu laringoscópio, começava a evolução tecnológica no estudo da voz. Garcia foi renomado professor de canto e acumulou fama e fortuna.

O grande avanço tecnológico no século XX, mais precisamente à partir da segunda metade do século, facilitou o estudo científico e o conhecimento do funcionamento da produção vocal.

Surgiram, uma série de teorias sobre a fisiologia (funcionamento) da voz.

Na teoria neurocranáxica (1950, Husson) as pregas vocais são ativas e desassociadas do mecanismo de intensidade (pressão subglótica, ou pressão de ar vinda dos pulmões). De acordo com a prega vocal descrita por Goerttler, elas permaneciam fechadas e eram abertas pelos músculos tireovocal e arivocal, teoria que não foi comprovada. Para Husson a classificação vocal (tenor, baixo, soprano, contralto, etc.) de um cantor depende da capacidade do nervo recorrente entrar em ação, ele que puxa os músculos citados por Goetller, quanto mais vezes o nervo consegue ativat o músculo mais aguda a voz do cantor. A técnica vocal seria, então, baseada na capacidade de concentração do cantor, dando pouca importância à respiração ou controle muscular, era só pensar e se focar na ação que a voz fluía.

As teorias mucondulatórias (1962, Parelló) e mioelástica completada (1963, Van den Berg e Vallancien) notaram a importância da mucosa da laringe na fonação. A vibração da prega vocal é na verdade ondulação na mucosa que recobre as pregas vocais.

Em 1960, Cornut e Lafon, desenvolveram a teoria impulsional, onde 3 elementos influenciam no funcionamento laringeo: força no fechameno glótico (fechamento das pregas vocais), pressão subglótica (pressão do ar vindo dos pulmões) e força de atração das pregas vocais pela redução da pressão da passagem de ar (efeito Bernouilli). Para eles, as pregas não vibram como cordas de violino, mas alternando oclusões (fechamentos) e aberturas.

A teoria neuroscilatória (1968, Mac-Léod e Sylvestre) compara a laringe aos músculos das asas dos insetos.

5 comentários:

  1. Caramba sinistro esse aproveitamento para observação de Ludwig Mende, pois os estudo anatômicos nunca foram facies neh. Li em alguns livros que muitos dos estudos da fisiologia das pregas vocais foram feitos com pregas vocais de cães.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. O cara foi ligeiro... Mas tenho dó da cobaia ali, hehe.
      Existem muitos estudos em laringes de animais, mas hoje em dia você tem tecnologias incríveis que permitem a verificação dos fenômenos em tempo real, mostrando não só a anatomia, mas a fisiologia da coisa.

      Excluir
  2. Tem vídeos no YouTube de filmagem lagigoscópia de cantores líricos cantando e mostrando o movimento
    da laringe e da epiglote.

    ResponderExcluir
  3. É muito bacana vê o tamanho das pregas vocais 😁

    ResponderExcluir