quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Os registros vocais - Parte 4

Falsete, o registro elevado

O termo “falsetto” descreve um tipo específico de som, bastante suave e "infantilizado". A leveza desse som é causada pelas pregas vocais se tocando levemente, o TA (músculo da prega vocal) repousa quase totalmente e o som é controlado pelo CT. É uma produção que tem pouco contato na borda das pregas vocais, que ficam bastante esticadas e vibrando quase que paralelamente.

Aqui cabe um comentário. Muitos dizem, talvez de forma didática, que no falsete o TA desliga e no fry o CT desliga. Atenção!, músculo não têm tomada e não desliga, a menos que sofra uma paralisia. Quando ouvir frases do tipo, entenda como "o músculo fica em atividade muito baixa", e jamais, "para de funcionar".

Voltando, sua característica é o alcance dos agudos além do registro modal e é normalmente leve e soproso em vozes não trabalhadas.

Trabalhar falsete é de extrema importância para desenvolver os demais registros e é muito usado em inúmeros estilos musicais. Quando bem trabalhado se torna mais uma arma do bom cantor.

Polêmicas acerca do falsete:
O termo surgiu pois, na idade média, as mulheres (geralmente) não podiam cantar nas igrejas e os compositores utilizavam crianças, ou mesmo adultos (contra tenores, castratti, etc.) que falseavam a voz feminina, imitando-as. Muitos interpretam o falsete como sendo uma voz falsa, alguns dizem que o cantor em falsete está usando uma voz que não é a dele, o que, pela descrição acima não se sustenta.
Algumas pessoas vinculam o nome falsete às falsas pregas vocais, mas não há qualquer relação. O falsete é produzido nas pregas vocais, e não é nem mais nem menos que os outros registros, apenas um outro tipo de comportamento muscular.
Todos podem produzi-lo, homens e mulheres, pois trata-se de um mecanismo fisiológico, e não estético, bastando apenas treino e direcionamento correto para atingi-lo.

Por muito tempo se acreditou que falsete feminino não existia, e isso está certo e está errado (?). Se você pensar no termo "falsete", ele vem de falsa voz feminina, ou seja, homens imitando mulheres, então, mulheres não precisam imitar ninguém e o som sai naturalmente, não tem falsete, certo? Não é bem assim. Pela configuração fisiológica a mulher faz o mesmo que os homens, a diferença é que nos homens a diferença no som desse registro é mais perceptível. Então, mulher faz falsete, mas essa nomenclatura fica estranha, daí a necessidade de se usar outro termo para esclarecer, como registro elevado.

Exemplo de falsete você ouve no refrão dessa música ao lado:

Existe ainda um registro (que na verdade, podem ser dois) acima do falsete, que você ouve aos montes nos trabalhos da cantora Mariah Carey, ou David Lee Roth do Van Halen, Eric Martin do Mr. Big, etc. chamado de Registro Flauta (o Registro Asssobio poderia ser uma variação do Flauta), mas ainda há muito a ser estudado sobre ele. É sabido que emite um som extremamente agudo e cristalino e com pouca pressão aérea com as pregas vocais bastante tensionadas, e deixando apenas parte de seu cumprimento vibrando, e muitas vezes elas nem vibram (daí a diferenciação entre Flauta e Assobio), apenas param e recebem o ar que passa sibilando no seu vão.


E chegamos ao fim dos textos sobre os registros vocais, laringe e funcionamento das pregas vocais na visão tradicional. E quais conclusões podemos tirar disso tudo?

Certamente a ação desses músculos todos é responsável pelo tipo de som que produzimos, não tendo qualquer relação com onde ele ressoa, ou onde sentimos vibrar, como se pensou por muito tempo. As sensações de vibração, ou de som mais aqui, mais ali, etc. aparecem com o uso dos ressonadores e da articulação, que complementam os registros, criando estéticas diferentes, mas ressonância é tema de outro post aqui no blog.

Conhecer a ação muscular dentro da laringe interessa como para quem quer começar a cantar, ou desenvolver sua técnica vocal?

Gosto sempre de comparar o canto ao esporte, onde o atleta precisa desenvolver seu corpo, fortalecê-lo, deixa-lo maleável e treinar seus movimentos para dominar sua arte. No canto é a mesma coisa. Sendo a base do controle de voz o trabalho muscular, é imprescindível que haja um treinamento focado no desenvolvimento desses músculos, seja CT, TA, musculatura intercostal, diafragma, língua, lábios, etc., e do resto do corpo todo. E, para isso, precisamos conhecer esse corpo, saber o que precisa ser feito para deixá-lo apto ao canto, pois não há truques, não há mágica, nem receita do bolo, apenas um instrumento musical que deve ser preparado para o uso, como qualquer outro.

A magia está no resultado produzido por um canto bem feito, utilizando emoção e expondo sentimentos, e não no processo de produção dele, mas dominá-lo te dará ferramentas mais versáteis para ter a voz expressiva que todos sonham.

A forma de classificar a voz em peito, cabeça, mix e falsete está sendo substituida por formas mais completas que vêm surgindo com os avanços da pesquisas em voz, já que essa vem de uma tradição de canto com uma estética específica e que não explica todos os sons e possibilidades vocais que temos.
Conheça visões mais atuais do controle da voz e explicações mais aprofundadas do mecanismo das pregas vocais CLICANDO AQUI.

2 comentários:

  1. Boa noite. Em primeiro lugar, muitos parabéns pelo seu blog! Descobri-o hoje e estou maravilhada! :) Gostaria de perceber, uma vez que, afinal, existe falsete no feminino (estou constantemente a receber informações contraditórias...) , como é que ele acontece. O que tenho depreendido do que tenho estudado, na teoria e na prática, é que o falsete masculino corresponde , basicamente, à chamada voz de cabeça na mulher. (Era bom que houvesse um falsete feminino para os graves que os homens têm e a maioria das mulheres não alcança! ;) ) Se assim não é e o falsete nas mulheres é outra coisa, podia dar-me um exemplo de uma voz feminina cantando em falsete para que consiga perceber? Muito obrigada, mais uma vez!

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    1. Muito obrigado pelos elogios e pela dúvida do falsete feminino. Vou responder no próximo post do blog já que o assunto causa brigas no mundo da voz, hehehe

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