quarta-feira, 29 de julho de 2015

Formantes, ressonâncias, sintonização de vogais. Como utilizar? Parte 3

Esta é a terceira parte de um texto que começou AQUI

Uma pergunta que me foi feita:

“Formante é uma ferramenta pra medir o canto lírico?”

Não. Formante é um pico de energia em uma região do espectro sonoro, ele define vogais, define timbre e tudo mais relacionado a som, seja no canto (qualquer um), na fala, nos instrumentos musicais e em áreas fora do mundo musical. Em 1938 James Jeans já falava em formantes.
Espectrograma das vogais, na mesma intensidade, com mesmo ajuste muscular na laringe. Cada linha é um harmônico da voz. Quanto mais brilhante, mais reforçado está o harmônico, e isso é resultado dos picos de energia dos formantes.
Alguns pesquisadores da acústica vocal descobriram que a voz tem maior eficiência quando formantes e harmônicos estão sintonizados. Isso amplifica o som ou enfatiza determinada característica do timbre da voz e aprimora a interação entre ressonância e fonte sonora (pregas vocais), reduzindo o esforço.

Sintonizar formante, ou sintonizar vogal, é fazer com que o pico do formante esteja ressoando na mesma frequência de um dos harmônicos escolhidos, e dependendo de qual, um som diferente vai acontecer. Simplificando, você pode pensar que a vogal (formante) ajuda a amplificar determinada nota (harmônicos) ou característica de timbre. 
Voce Vista com a vogal /a/. Na metade de baixo, os picos de
formantes isolados, na de cima, as linhas dos harmônicos
sendo moldadas pelos picos
Um programa de análise acústica mostra isso de forma bem simples  como no print screen que vocês podem ver do programa Voce Vista, mostrando os harmônicos acima e os formantes abaixo, perceba que na imagem de cima os harmônicos formam montes mais altos quando há um pico de formante.

É importante perceber que não existem frequências exatas de formantes para cada vogal, mas regiões, como podemos ver nas tabelas abaixo. O que nos mostra que diferentes posições de trato podem ser percebidas como um mesmo som, e mais, nos mostra que mesmo pessoas com anatomias distintas conseguem, por ação dos articuladores, modificar como soa, alterando a “cor natural” da voz, utilizando a “cor desejada”.
regiões dos formantes F1 e F2 das vogais na fala e também dos instrumentos musicais
F1, F2 e F3 em varias vogais, que você pode comparar com a figura do Voce Vista que gravei acima.
Exemplos de sintonização de vogais abordados por estudos como os de Schutte e Miller (1993) e de LeBorgne (2001) são os cantores de elite de belting, que mostram que F1 (prImeiro formante) fica na altura de H2 (segundo harmônico) , e eles fazem isso elevando a laringe. O resultado é um som poderoso sem a necessidade de aumentar a adução das pregas vocais, fazendo o belting com “registro misto” (músculos trabalhando em conjunto, porém com predominância de TA sobre CT) e não “de peito” (TA sendo forçado), como alguns imaginam.

Abrir mais a mandíbula em vogais abertas como /a/ ajuda nesse caso, principalmente em notas hiperagudas, tanto no canto lírico como em estilos populares. Em vogais fechadas, como /u/ e /o/ abrir os lábios resolve e nas vogais /i/ e /e/ deve-se ampliar os espaços na cavidade oral, aplainando a língua. Dessa forma, F1 continuará acima da nota fundamental, mesmo em vogais que possuem primeiros formantes mais graves.

Aqui vale uma observação importante feita pelo Dr. Sundberg: Muitos professores de canto alarmam que laringe elevada equivale a risco vocal, porém, estudos nos mais diversos estilos musicais, até mesmo em sopranos de ópera encontram esse ajuste sendo utilizado, e mesmo assim suas carreiras são longas e bem sucedidas.

Não entenda isso como “cante sempre com a laringe alta, o Mauro falou que é melhor”. Não, laringe alta tensa é prejudicial, causa hiperfunção e pode gerar microtraumas na musculatura, que cobrarão seu preço ao longo do tempo. Porém, em determinados casos, como quando se quer um som de timbre mais agudizado, é uma opção a ser considerada. (não confundir laringe alta, socada na base da língua, com laringe elevada).

Novamente, vale aquela observação de que cantar requer trabalho muscular direcionado, o que é diferente de tensão generalizada, saber diferenciar os dois é o que vai resolver a vida de qualquer cantor.

A última parte deste artigo você pode ler clicando AQUI.

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