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terça-feira, 7 de maio de 2019

Convite para pesquisa

O texto de hoje é um convite para os cantores que utilizam qualquer tipo de distorção vocal.

Mauro e Filipa Lã na
Universidade de Coimbra (Portugal)
Não precisa ser profissional, apenas cantar e usar distorções seja numa sílaba, seja no repertório todo. pode ser cantor de funk, sertanejo, pop, rock, metal, gospel, musical, ópera, o que for.


Explicando melhor:


A professora portuguesa Filipa Lã e eu estamos coletando respostas de cantores que façam uso das distorções vocais em um questionário. Nossa intenção é conhecer as práticas e razões pelas quais nós usamos esses ajustes.

O material será depois formatado para um artigo científico e estará disponível aos interessados

O questionário foi produzido em duas línguas, português e inglês, então, pedimos que vocês respondam um só, e enviem o link para seus contatos em qualquer lugar do mundo. A participação de vocês é super importante para nós e trará uma nova luz sobre esses efeitos de voz.


Contamos com vocês!!

domingo, 17 de abril de 2016

Workshop de distorções vocais

Hora de fazer um relato de como foi o Workshop do dia mundial da voz, sobre distorções vocais.

O evento foi organizado pelo Grupo de Estudos Vocal SP, e estava com o espaço lotado. Professores de canto em universidades, professores de canto particulares, cantores de MPB, blues, teatro musical, Heavy Metal, cantores líricos da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (OSESP), uma médica, cantores da noite de rock e cantores amadores formavam o público mais heterogêneo que um curso de distorções vocais já recebeu no planeta. Todos interessados em expandir horizontes e conhecer os diferentes tipos de distorções e como realizá-las.
O curso começou com a Dr. Joana Mariz fazendo uma brilhante introdução sobre o uso das distorções na fala, na expressividade humana, na música brasileira em cantoras como Elza Soares e Elis Regina, e até mesmo no canto erudito.

Joana estava grávida, com seu bebê que poderia nascer a qualquer momento, e demonstrou que não há empecilhos para cantar de forma distorcida, mas como ela mesma questionou. Distorcida em relação a que? Todas as vozes são normais, ainda precisamos de termos melhores para explicar o que chamamos de drives, guturais e vozes sujas e rasgadas.
Depois foi a vez da Marcella Martinez explicar as diferenças entre as vozes realizadas com ciclos periódicos de vibração nas pregas vocais e as com ciclos aperiódicos e/ou alteradas pelo uso do trato vocal.
Uma extensa pesquisa com uso das vozes distorcidas ao longo da história no mundo foi apresentada por mim, Mauro Andrea, começando com cantos tribais na África, passando por cantos tribais no Brasil, música tradicional da Mongólia, Tibet, Sardenha, Flamenca, Árabe e até do Alasca, passando pelo Negro Spiritual dos escravos nos EUA em canções como Amazing Grace e Happy Day, entrando no Gospel, Jazz, Blues e Soul, com gênios como Lavern Baker, Aretha Franklin, Frank Sinatra até chegar no início do rock e pré rock de Elvis, Little Richard e Ray Charles e depois com bandas  de rock como Beatles, Led Zeppelin, Queen, Aerosmith, etc.
Depois de demonstrar que as distorções não surgiram no rock, não dava pra não passear pelo gênero que mais explorou as diversas variações de distorções, o Heavy Metal. Desde Motorhead e Judas Priest passando por Dio, Iron Maiden, Metallica, Guns n Roses, Skid Row, Nirvana, e bandas mais extremas como: Slayer, Cannibal Corpse, Accüsed, Mayhem, Carcass, Cradle of Filth, etc. Até chegar ao cenário atual, com Slipknot, Avenged Sevenfold, Asking Alexandria, etc.
Atalmente as distorções estão em todo canto, na Broadway, nos animes, no sertanejo, na MPB e até no funk
Antes de entrarmos na parte prática do curso, tivemos uma visão incrível da música experimental que utiliza vozes distorcidas de artistas como: Bjork, Arrigo Barnabé, e Tanya Tagaq, além da "ex-beatle" Yoko Ono.
Conhecemos a opinião de alguns cantores e professores como: Jorn Lande, Bruce Dickinson, Daniel Zangger-Borsch e Mark Baxter sobre o uso das distorções e, depois de uma paua pro merecido almoço, entramos nos treinos e exercícios.

No grupo, tivemos a ideia de explorar e demonstrar ao público os principais métodos de enino de distorção vocal, começando pelo Complete Vocal Technique da dinamarquesa Cathrine Sadolin, que tem um material extremamente organizado e uma ampla pesquisa divulgada sobre diversos ajustes que ela batiza de: Distortion, Rattle, Growl, Grunt, Creak e Creaking e suas variações. Cathrine fez estudos incríveis com cantores tendo o auxílio do laringologista Julian MacCglashan demonstrando imagens e analises acústicas dos ajustes propostos.
Foi a hora de todo mundo experimentar sons diferentes, e já começamos a ver cantores líricos experimentando Growls e cantores de MPB treinando diferentes tipos de sons, a empolgação era enorme e eu tinha que conter o tempo todo aquela ótima energia que vinha.
O segundo método abordado foi o de Melissa Cross, o Zen of Screaming. Marcella fez todo mundo explorar os "Extrems" e pular para facilitar o "Death". Nessa hora chamamos um cantor da platéia que canta, entre outros, Lamb of God, que por coincidência tem o vocalista como aluno da Melissa Cross, e com poucas dicas nossa e conseguiu uma emissão muito mais confortável e poderosa.
O terceiro método praticado foi o do brasileiro Ariel Coelho, que faz um estudo minucioso nas estruturas musculares que produzem as vozes distorcidas e as divide entre "drives" glóticos, supraglóticos e mistos. O controle de pressão supraglótica, trabalhado por Ariel a exaustão fez grande sucesso e suas inúmeras divisões de tipos de distorções foram exploradas por todos com grande curiosidade e entusiasmo.

O conhecimento de 3 formas, com suas diferenças e semelhanças, de trabalhar mostrou a todos que não há mistério no treino de vozes distorcidas, apenas precisamos de paciência, cuidado com a saúde vocal, ousadia e, principalmente, seguir metodologias definidas para atingir resultados seguros.
Na última parte do curso, Nani voltou para explorar o uso da tecnologia no aprimoramento do canto e pudemos ver como efeitos simples de delay, double, reverb e oitavador, efeitos esses que são utilizados constantemente por profissionais do mais alto nível como Bruce Dickinson, Rob Halford, Russen Allen, etc., auxiliam o cantor a manter a saúde vocal ao longo de turnês extensas ou mesmo em shows simples.
Para finalizar, Marcella e eu mostramos exames de videolaringoscopia que realizamos com o Dr. Luciano Neves, e todos puderam ver pausadamente o que acontece com as estruturas da laringe em diversos ajustes de distorção e como alguns diferentes nomes em diferentes métodos são causados por ajustes iguais e ajustes iguais recebem nomes diferentes em métodos diferentes, causando confusão na hora que o cantor resolve estudar e pesquisar o tema.
O time de ministrantes do workshop: Mauro, Joana, Marcella e Nani
Termino esse texto com um agradecimento enorme às Monicas e toda equipe do Vocal SP pelo empenho e dedicação, ao Renato, marido da Marcella, pela ajuda com o equipamento, aos meus colegas ministrantes pelo brilhante e intenso trabalho, ao Dr. Luciano Neves pela dor no braço em mais de uma hora de laringoscopia, ao Ariel Coelho, pelas aulas, cursos, autorização e ajuda com seu método, e, principalmente, aos participantes do curso, que demonstraram um interesse fantástico, e melhor, que saíram de lá sabendo como treinar pra atingir os objetivos, o que nos deixou extremamente felizes, ainda mais com o retorno que tivemos e os pedidos da reedição do workshop, até mais extenso, já que as 8 horas passaram voando.

segunda-feira, 28 de março de 2016

Novo curso de distorções vocais

No final de 2015 fui convidado para fazer parte do grupo de estudos de canto e voz que realiza vários eventos, cursos e workshops, o VocalSP, o que me deixou muito contente, por ser um grupo recheado de profissionais incríveis, pessoas hiper competentes, com currículos extensos e uma enorme paixão pelas descobertas sobre o canto.

E para marcar essa nova etapa, o grupo resolveu montar um workshop de um dia inteiro sobre distorções vocais,e  eu serei um dos ministrantes
Esse super completo sobre as distorções vocais (os famosos drives e guturais), promovido pelo VocalSP, vai abordar:
Distorções na fala e expressividade
Uso das distorções no teatro e dramarturgia em geral.
Distorções na música em diversos estilos ao longo da história (rock, blues, MPB, jazz, sertanejo, gospel, música folclórica e etc.).
Explicações dos ajustes realizados em diversos tipos de distorção, de acordo com as mais avançadas pesquisas no Brasil, Suécia, Dinamarca, Itália e EUA.
Pré-requisitos para a realização plena e saudável desses efeitos.
Exemplos sonoros.
Práticas de treino e exercícios.
Aplicação com uso de tecnologia.
Cuidados para a manutenção e desenvolvimento dos ajustes necessários.



Inscrições pelo inbox do grupo VocalSP, ou pelo e-mail vocalvocalsp@gmail.com

Mais informações no cartaz abaixo:

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Resumo do Workshop - Fisiologia da voz e técnica vocal no rock

No dia 16 de abril é comemorado o dia mundial da voz, e neste ano participei ministrando um WORKSHOP sobre fisiologia e técnica vocal no rock e derivados.

O WORKSHOP foi no dia 17, sexta-feira. na Escola RUAH Arte Música, que me convidou e cedeu o espaço.
No site internacional do World Voice Day, o workshop aparece pelo link Workshop no WVD 2015

Foi uma alegria enorme poder preparar esse curso especial e encontrar cantores, professores e fonoaudiólogos interessadas em aprender e compartilhar suas experiências em mais de 3 horas de curso, onde procurei mesclar parte teórica e prática.
 Os temas abordados foram:

  • Avanços e história da ciência vocal
  • O que é a técnica vocal
  • Aquecimento vocal - sua importância e modelo de aquecimento para cantor de rock
  • Anatomia e fisiologia das pregas vocais
  • Anatomia e fisiologia da laringe em geral, músculos extrínsecos e intrínsecos e como desenvolvê-los
  • Anatomia e fisiologia da respiração no canto, e como trabalhar o apoio respiratório no canto em geral e nos momentos mais intensos do rock
  • Registros vocais e os ajustes musculares que os produzem, e como acessaá-los
  • Ressonância e articulação
  • Canto harmônico, e como emitir duas notas ao mesmo tempo
  • Estéticas vocais 
  • Vibrato
  • Técnica e ajustes vocais no rock
  • Distorções vocais. As pesquisas publicadas e métodos de treinar diferentes formas de criar o que muitos conhecem como drives ou voz rasgada
  • Dicas para cantores de rock e metal, a importência de ser um atleta da voz
  • Desaquecimento Vocal
Como puderam perceber, foi um curso denso, com bastante conteúdo, e estou muito satisfeito por ter feito tudo com uma base sólida científica por trás das informações, mencionando fontes e promovendo o bom uso da ciência vocal, da forma como acredito ser a melhor para a evolução do canto e da pedagogia vocal, quebrando mitos e tabus historicamente estabelecidos.

Quero agradecer imensamente à equipe da escola Ruah, e ao participantes do evento, desejando que cada um possa ter aproveitado tanto quanto eu.

Nos vemos ne próxima oportunidade

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

É verdade que quem faz drive danifica a voz?


Vamos falar primeiro sobre o que é drive.

Drive é aquela “rasgada” na voz, aquele som distorcido que pode lembrar uma voz rouca ou quase um latido de cachorro bravo, usado normalmente para dar maior agressividade na voz, ou mais ênfase em determinado som. 
Para quem toca guitarra, é o mesmo nome do efeito que distorce o som, deixando aquele “chiado” característico. Aliás nome para o drive é o que não falta (o termo "drive" só é utilizado no Brasil, fora você ouve raspy voice, creeky voice, distorted voice, sing with gravel, grip, etc.), mas não vou entrar nesse mérito, o importante saber é que existem vários tipos de distorção, que vão variar de acordo com as estruturas que vibrarem fazendo esse "barulho".

Confira Jorn Lande, um ótimo exemplo de drives.

Mas engana-se quem pensa que é uma técnica exclusiva do rock, heavy metal e da música pesada, o drive, chamado de desvio vocal pelos estudiosos da voz, também é muito comum no blues, jazz, etc. você encontra em gospel, pop e até mesmo na música sertaneja (vide Bruno e Marrone) ou folclórica de diversas regiões do planeta, a música erudita também utiliza o drive como recurso estético, como na ópera "Tosca" de Puccini, quando morre Scarpia.

Atualmente esse tema é estudado no mundo todo, por pesquisadores, cientistas vocais e professores de canto de vários países, como: Enrico Di Lorenzo, Per Ake Lindestad, Daniel Zangger Borch, Cathrine Sadolin, Julian McGlashan, Melissa Cross, Jamie Vendera, Mark Baxter, Brian "Hacksaw" Williams e Guilherme Pecoraro e Ariel Coelho, brasileiros, além deste que escreve, e muitos outros ao redor do mundo, já com diversos artigos científicos e alguns métodos publicados. Muito tem se descoberto sobre o assunto, mas ainda há muito o que se entender, e, respondendo a questão inicial, já se sabe que esses efeitos de distorção vocal podem ser feitos sem prejuízo para a voz se forem feitos da maneira correta, respeitando o estágio técnico e resistência de cada um.

Fisiologicamente, essa distorção é causada pela adição de mecanismos que vão trabalhar acima das pregas vocais, como as pregas vestibulares, pregas ariepiglóticas, a epiglote, cartilagens cuneiformes, palato, ou mesmo por uma vibração aperiódica (em ritmo irregular proposital) das pregas vocais. Quanto mais coisas vibrarem, mais distorcido fica o som, mais agressivo. Alguns são feito sem a utilização das pregas vocais, o que impede o som de ter melodia definida, enquanto outros mantém sua vibração, e as notas são cantadas normalmente,apenas adicionando os "ruídos", como um pedal de distorção de guitarra.

Hoje em dia podemos encontrar infinitos nomes para esses diferentes tipos de drives, o que pode confundir aquele que tenta aprender, pois vai achar um som com um nome em um método e com um diferente em outro. Infelizmente essas coisas não seguem um padrão, e dependem muito mais do marketing, da vontade de parecer inovador e de vender o peixe de cada um do que de qualquer outra coisa.

A pressão de ar pode ser maior dependendo do tipo de distorção criadoo, mas não pode ser exagerada. O que causa dano é tentar realizar esse som arranhando ou comprimindo a estrutura da laringe de forma abusiva, o famoso “na raça”,com uma grande pressão de ar, ou com a estrutura sem condicionamento e resistência suficientes, mais do que nunca, nos drives, a conciência dos ajustes musculares é importantíssima, bem como cuidados gerais de higiene vocal e noção de quanto seu corpo pode ser exigido em cada momento.
na figura: as pregas vocais (vocal fold) com o músculo vocal, ou TA (vocalis muscle), as pregas vetibulares logo acima (vestibular fold) e a epiglote lá no alto (epiglottis)

O ideal, segundo alguns pesquisadores, é alternar momentos “limpos” com momentos “rasgados” poupando o mecanismo vocal e evitando uma fadiga exagerada, pois sabemos que cantar com os músculos cansados não é inteligente, assim como um jogador de futebol, que pede para ser substituído quando sente que se houver esforço maior pode ter uma contusão desnecessária.

O importante é treinar e se preparar bem. Não tente pular etapas, não tenha pressa para desenvolver seus drives, isso sim é nocivo, pois esses efeitos precisam de um preparo físico mais elaborado, precisam de força e resistência que não surgem de uma hora para outra, e principalmente, precisam de uma capacidade de auto percepção e controle, que somente com uma técnica vocal apurada você consegue ter de fato. 
Lembre-se, você não encontra sua voz, você a desenvolve, e o drive, como em todo o resto do estudo de canto, passa pelo processo de entender como faz, se adaptar, fazer com facilidade e só então fortalecer.

Outra pergunta comum a esse respeito é: Se é preciso uma anatomia privilegiada, uma voz específica para realizar esse tipo de som? Claro que alguns cantores possuem vozes roucas ou características naturais que facilitam o trabalho, mas não, você não precisa ter "nascido para fazer drive", você precisa de um treinamento correto, consciência e paciência.

Angela Gossow, mostrando que até o drive mais "brutal" pode ser feito por qualquer um.

É uma técnica perigosa? Para quem faz errado cantar é perigoso, falar é perigoso, atravessar a rua é perigoso. O drive não é o problema, o que é feito antes dele é que causa os danos, se você canta com muita força e pressão, o drive só vai mostrar isso mais claramente. Condicione sua voz, trabalhe ela como um todo, e aí terá drive, saúde vocal e muita diversão!!!