domingo, 17 de abril de 2016

Workshop de distorções vocais

Hora de fazer um relato de como foi o Workshop do dia mundial da voz, sobre distorções vocais.

O evento foi organizado pelo Grupo de Estudos Vocal SP, e estava com o espaço lotado. Professores de canto em universidades, professores de canto particulares, cantores de MPB, blues, teatro musical, Heavy Metal, cantores líricos da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (OSESP), uma médica, cantores da noite de rock e cantores amadores formavam o público mais heterogêneo que um curso de distorções vocais já recebeu no planeta. Todos interessados em expandir horizontes e conhecer os diferentes tipos de distorções e como realizá-las.
O curso começou com a Dr. Joana Mariz fazendo uma brilhante introdução sobre o uso das distorções na fala, na expressividade humana, na música brasileira em cantoras como Elza Soares e Elis Regina, e até mesmo no canto erudito.

Joana estava grávida, com seu bebê que poderia nascer a qualquer momento, e demonstrou que não há empecilhos para cantar de forma distorcida, mas como ela mesma questionou. Distorcida em relação a que? Todas as vozes são normais, ainda precisamos de termos melhores para explicar o que chamamos de drives, guturais e vozes sujas e rasgadas.
Depois foi a vez da Marcella Martinez explicar as diferenças entre as vozes realizadas com ciclos periódicos de vibração nas pregas vocais e as com ciclos aperiódicos e/ou alteradas pelo uso do trato vocal.
Uma extensa pesquisa com uso das vozes distorcidas ao longo da história no mundo foi apresentada por mim, Mauro Andrea, começando com cantos tribais na África, passando por cantos tribais no Brasil, música tradicional da Mongólia, Tibet, Sardenha, Flamenca, Árabe e até do Alasca, passando pelo Negro Spiritual dos escravos nos EUA em canções como Amazing Grace e Happy Day, entrando no Gospel, Jazz, Blues e Soul, com gênios como Lavern Baker, Aretha Franklin, Frank Sinatra até chegar no início do rock e pré rock de Elvis, Little Richard e Ray Charles e depois com bandas  de rock como Beatles, Led Zeppelin, Queen, Aerosmith, etc.
Depois de demonstrar que as distorções não surgiram no rock, não dava pra não passear pelo gênero que mais explorou as diversas variações de distorções, o Heavy Metal. Desde Motorhead e Judas Priest passando por Dio, Iron Maiden, Metallica, Guns n Roses, Skid Row, Nirvana, e bandas mais extremas como: Slayer, Cannibal Corpse, Accüsed, Mayhem, Carcass, Cradle of Filth, etc. Até chegar ao cenário atual, com Slipknot, Avenged Sevenfold, Asking Alexandria, etc.
Atalmente as distorções estão em todo canto, na Broadway, nos animes, no sertanejo, na MPB e até no funk
Antes de entrarmos na parte prática do curso, tivemos uma visão incrível da música experimental que utiliza vozes distorcidas de artistas como: Bjork, Arrigo Barnabé, e Tanya Tagaq, além da "ex-beatle" Yoko Ono.
Conhecemos a opinião de alguns cantores e professores como: Jorn Lande, Bruce Dickinson, Daniel Zangger-Borsch e Mark Baxter sobre o uso das distorções e, depois de uma paua pro merecido almoço, entramos nos treinos e exercícios.

No grupo, tivemos a ideia de explorar e demonstrar ao público os principais métodos de enino de distorção vocal, começando pelo Complete Vocal Technique da dinamarquesa Cathrine Sadolin, que tem um material extremamente organizado e uma ampla pesquisa divulgada sobre diversos ajustes que ela batiza de: Distortion, Rattle, Growl, Grunt, Creak e Creaking e suas variações. Cathrine fez estudos incríveis com cantores tendo o auxílio do laringologista Julian MacCglashan demonstrando imagens e analises acústicas dos ajustes propostos.
Foi a hora de todo mundo experimentar sons diferentes, e já começamos a ver cantores líricos experimentando Growls e cantores de MPB treinando diferentes tipos de sons, a empolgação era enorme e eu tinha que conter o tempo todo aquela ótima energia que vinha.
O segundo método abordado foi o de Melissa Cross, o Zen of Screaming. Marcella fez todo mundo explorar os "Extrems" e pular para facilitar o "Death". Nessa hora chamamos um cantor da platéia que canta, entre outros, Lamb of God, que por coincidência tem o vocalista como aluno da Melissa Cross, e com poucas dicas nossa e conseguiu uma emissão muito mais confortável e poderosa.
O terceiro método praticado foi o do brasileiro Ariel Coelho, que faz um estudo minucioso nas estruturas musculares que produzem as vozes distorcidas e as divide entre "drives" glóticos, supraglóticos e mistos. O controle de pressão supraglótica, trabalhado por Ariel a exaustão fez grande sucesso e suas inúmeras divisões de tipos de distorções foram exploradas por todos com grande curiosidade e entusiasmo.

O conhecimento de 3 formas, com suas diferenças e semelhanças, de trabalhar mostrou a todos que não há mistério no treino de vozes distorcidas, apenas precisamos de paciência, cuidado com a saúde vocal, ousadia e, principalmente, seguir metodologias definidas para atingir resultados seguros.
Na última parte do curso, Nani voltou para explorar o uso da tecnologia no aprimoramento do canto e pudemos ver como efeitos simples de delay, double, reverb e oitavador, efeitos esses que são utilizados constantemente por profissionais do mais alto nível como Bruce Dickinson, Rob Halford, Russen Allen, etc., auxiliam o cantor a manter a saúde vocal ao longo de turnês extensas ou mesmo em shows simples.
Para finalizar, Marcella e eu mostramos exames de videolaringoscopia que realizamos com o Dr. Luciano Neves, e todos puderam ver pausadamente o que acontece com as estruturas da laringe em diversos ajustes de distorção e como alguns diferentes nomes em diferentes métodos são causados por ajustes iguais e ajustes iguais recebem nomes diferentes em métodos diferentes, causando confusão na hora que o cantor resolve estudar e pesquisar o tema.
O time de ministrantes do workshop: Mauro, Joana, Marcella e Nani
Termino esse texto com um agradecimento enorme às Monicas e toda equipe do Vocal SP pelo empenho e dedicação, ao Renato, marido da Marcella, pela ajuda com o equipamento, aos meus colegas ministrantes pelo brilhante e intenso trabalho, ao Dr. Luciano Neves pela dor no braço em mais de uma hora de laringoscopia, ao Ariel Coelho, pelas aulas, cursos, autorização e ajuda com seu método, e, principalmente, aos participantes do curso, que demonstraram um interesse fantástico, e melhor, que saíram de lá sabendo como treinar pra atingir os objetivos, o que nos deixou extremamente felizes, ainda mais com o retorno que tivemos e os pedidos da reedição do workshop, até mais extenso, já que as 8 horas passaram voando.

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