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sexta-feira, 6 de julho de 2018

Pressão, fluxo de ar e apoio


Eis um tema cheio de mal-entendidos e confusão e que faz toda a diferença quando a gente entende com clareza.

Qual é a diferença entre pressão de ar e fluxo de ar? Onde entra o apoio nisso tudo? Tem a ver com o diafragma?

Falou em pressão falou de algo físico, uma força perpendicular, ou seja, algo está empurrando. Você faz pressão para pregar um prego na parede.
Fluxo já é outra história, fluxo é aquilo que passa, que transborda, que flui.

No canto isso quer dizer que pressão de ar é a força com que o esse sai dos pulmões e chega nas pregas vocais (coitadinhas) e o fluxo de ar é a quantidade de ar que a gente deixa passar pelas pregas vocais para virar som. Sim que a gente deixa (cérebro wins!!)

Imagine uma caixa d’água. A água que desce vem com uma pressão e desce pelo cano, certo? OK, nossas pregas vocais nesse caso são a torneira que está nesse cano. Responda rapidamente sem consultar um encanador. Quem controla o quanto de água sai no exemplo acima, a caixa d’água ou a torneira?
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Exato a torneira. É nela que está o registro que você gira para permitir ou não a passagem de água.

E com a voz é a mesma coisa. Água e ar funcionam de formas muito parecidas. Quem controla o fluxo de ar são as queridonas das pregas vocais. E daí?
Resultado de imagem para water pressure
Sua voz já passou por isso?

E daí que quando o cantor ouve coisas do tipo “você tem que manter o sopro”, “você tem que cantar sobre o ar”, “você tem que deixar a voz fluir” ele não pode pensar de jeito nenhum que isso vai se resolver com apoio, suporte, respiração ou fé.

Pra gente conseguir manter a voz homogênea ao longo da extensão (quando isso for desejado) o que nós temos que aprender a sentir é o quanto de resistência das pregas vocais estamos aplicando no ar que sobe, ou seja, o quanto a gente tem de contato glótico. Lembra dos MODOS DE FONAÇÂO? (Se não lembra, clique aqui veja JÁ).

Se a voz não está “fluindo” ou não está deixando o “sopro livre” provavelmente a gente quer menos resistência nesse mecanismo nessa hora.

E se a gente pensar que tem que mandar mais ar ao invés de “abrir a torneira”? Bom, mandando mais ar a gente aumenta a pressão e como nosso corpo reage a isso? Fechando a torneira. Sim, você entendeu o drama. Ao mandar mais energia, mais força, mais amor e mais pegada o risco maior é o de bloquear o sistema todo e gerar um sobre-esforço violento, daí surgem as quebras, limitações de extensão e tudo mais.
Imagem relacionada
Aqui o dedo faz o papel de resistência pra pressão de água
Se você quiser ser super nerd da voz (aconselho), pense que o fluxo transglótico (aquele que atravessa a glote) é o resultado interação entre pressão subglótica (força que o ar vem) e a resistência glótica (o quanto as pregas vocais estarão em contato).

Então lembre-se, pressão e fluxo são coisas diferentes, que conversam mas interagem de formas diferentes de acordo com o tipo de canto que está sendo produzido. Saber entender os dois é vital para uma técnica precisa.

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Resumo do Workshop - Fisiologia da voz e técnica vocal no rock

No dia 16 de abril é comemorado o dia mundial da voz, e neste ano participei ministrando um WORKSHOP sobre fisiologia e técnica vocal no rock e derivados.

O WORKSHOP foi no dia 17, sexta-feira. na Escola RUAH Arte Música, que me convidou e cedeu o espaço.
No site internacional do World Voice Day, o workshop aparece pelo link Workshop no WVD 2015

Foi uma alegria enorme poder preparar esse curso especial e encontrar cantores, professores e fonoaudiólogos interessadas em aprender e compartilhar suas experiências em mais de 3 horas de curso, onde procurei mesclar parte teórica e prática.
 Os temas abordados foram:

  • Avanços e história da ciência vocal
  • O que é a técnica vocal
  • Aquecimento vocal - sua importância e modelo de aquecimento para cantor de rock
  • Anatomia e fisiologia das pregas vocais
  • Anatomia e fisiologia da laringe em geral, músculos extrínsecos e intrínsecos e como desenvolvê-los
  • Anatomia e fisiologia da respiração no canto, e como trabalhar o apoio respiratório no canto em geral e nos momentos mais intensos do rock
  • Registros vocais e os ajustes musculares que os produzem, e como acessaá-los
  • Ressonância e articulação
  • Canto harmônico, e como emitir duas notas ao mesmo tempo
  • Estéticas vocais 
  • Vibrato
  • Técnica e ajustes vocais no rock
  • Distorções vocais. As pesquisas publicadas e métodos de treinar diferentes formas de criar o que muitos conhecem como drives ou voz rasgada
  • Dicas para cantores de rock e metal, a importência de ser um atleta da voz
  • Desaquecimento Vocal
Como puderam perceber, foi um curso denso, com bastante conteúdo, e estou muito satisfeito por ter feito tudo com uma base sólida científica por trás das informações, mencionando fontes e promovendo o bom uso da ciência vocal, da forma como acredito ser a melhor para a evolução do canto e da pedagogia vocal, quebrando mitos e tabus historicamente estabelecidos.

Quero agradecer imensamente à equipe da escola Ruah, e ao participantes do evento, desejando que cada um possa ter aproveitado tanto quanto eu.

Nos vemos ne próxima oportunidade

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

"Cantar pelo diafragma"


Já escrevi aqui sobre suporte respiratório, mas cada vez mais eu continuo vendo coisas por aí do tipo “você tem que cantar pelo diafragma”, “você não chega no agudo por falta de apoio”, "precisa empurrar o diafragma", etc.

Vamos relembrar.
O diafragma é uma membrana muscular que “divide” o corpo em duas partes, abaixo (na cavidade abdominal) e acima (na cavidade torácica) das vísceras, ele está logo abaixo dos pulmões e cobrindo os órgãos do aparelho digestivo.
                                                                                  Ação diafragmática e intercostal

Sua função principal é contribuir com a respiração. Quando relaxado assume forma de cúpula, comprimindo os pulmões para cima expulsando o ar, e quando contraído o topo da cúpula abaixa empurrando as vísceras e esticando os pulmões para baixo. Esse alongamento dos pulmões faz com que a pressão de ar interna seja menor que a pressão externa fazendo com que o ar na atmosfera entre no nosso corpo (aí a razão para não precisarmos fazer força para puxar, sugar, o ar quando inspiramos), e o ciclo se completa com o diafragma relaxando e empurrando os pulmões para cima de volta, expulsando o ar. Ou seja, respiramos graça a ação do diafragma, constante e automática.

Outras ações causadas ou auxiliadas pelo diafragma são: tosse, espirro, parto, defecação e soluço, dependendo da força e do sentido do movimento, para cima ou para baixo.

O apoio diafragmático, ou respiratório, também chamado de suporte, se dá quando o diafragma está contraído (abaixado) e os músculos intercostais, auxiliados por toda uma estrutura em volta, composta por músculos abdominais, costais e até lombares, sustentam as costelas abertas, aumentando a capacidade da caixa torácica e impedindo que o diafragma relaxe suba novamente, expulsando o ar de uma vez só. É nessa hora que conseguimos controlar a saída de ar (importante para o canto, principalmente nos momentos mais intensos das músicas) e a pressão com que esse ar é expelido. Lembre-se, o ar sobe dos pulmões e faz a muscosa das pregas vocais vibrarem na laringe, aí entram em ação os músculos CT e TA controlando o tipo de som resultante (fraco, forte, leve, pesado, etc.).

Portanto, o controle dessa pressão é importantíssimo, pois, se for baixa, o ar não dará "combustível" suficiente para as pregas vocais agirem de forma plena (pouca ação dos músculos adutores, que fecham as pregas vocais e geram o som), e uma pressão mais forte do que o necessário causará constrição na laringe (aperto e possivelmente dor) pois elas não aguentarão a força enviada e isso causará tensão em toda estrutura que está envolta, gerada por mecanismos de compensação que o corpo acabará criando para "ajudar" o que não veio correto.
                                                                             Muita, muita pressão

Sabendo disso percebemos que o suporte aéreo, ou o controle do diafragma é vital para conseguirmos cantar sem forçar as estruturas envolvidas na produção da voz com um som satisfatório. Nós controlamos o diafragma (que tem ação involuntária o dia todo e voluntária quando queremos), e  os músculos ao redor, que vão ajudar no suporte pare que o diafragma não suba de uma vez (como na respiração), jogando todo o ar pra fora com força, que é o que ele foi programado para fazer desde o nosso primeiro fôlego.

Esse controle aéreo não é o único responsável pelo canto, e sim um fator que pode contribuir positiva ou negativamente para o bom funcionamento da laringe, e é lá que as coisas acontecem. Ser capaz de emitir um fluxo de ar constante e equilibrado é pré-requisito para manter o som homogêneo e os Modos de Fonação estáveis, evitando quebras indesejadas. Fazendo uma analogia, a respiração é a bomba de combustível do carro, sem ela o carro não anda, mas quem vai fazer o carro subir, descer, correr, andar, dar ré, etc. é o motor, e o motor é a laringe. Um vai facilitar a vida do outro, e nenhum vai resolver nada sozinho.

“Cantar pelo diafragma” é uma frase distorcida e possivelmente nociva, pois pode gerar tensões e forças desnecessárias, que podem contrair também a laringe, limitando o canto. Porém, essa imagem é compreensível quando se pensa na história do desenvolvimento e estudo do canto, coisa que já abordei AQUI, ou na sensação que muitos podem ter com as contrações musculares que acontecem na região ao tentar produzir os sons.

terça-feira, 22 de maio de 2012

A respiração no canto - Parte 2

A primeira parte deste texto você lê clicando AQUI

O processo respiratório no canto envolve uma série de músculos que precisam funcionar em harmonia - aqui voltamos à discussão da importância de desenvolvermos a coordenação motora do nosso corpo e a propriocepção (percepção de nós mesmos) para desenvolvermos esse, muitas vezes, novo comportamento, pois a maioria das pessoas não possui esse domínio – O diafragma é o músculo principal da respiração, os músculos intercostais (músculos situados entre as costelas), abdominais e mais alguns outros na região também tem participação decisiva, formando o que é chamado de apoio ou sustentação e suporte.
 
O diafragma é um músculo que divide o tórax do abdome, e é o grande responsável pela respiração. Ele tem formato de "paraquedas", e quando seu centro, que é rígido, se abaixa, contraindo, diminui a pressão de ar na caixa torácica fazendo com que o ar fora do corpo seja empurrado para dentro (por isso a falta de necessidade de puxarmos a inspiração com força, atitude que só ajuda a tencionar pescoço e laringe) esticando o tecido elástico dos pulmões, que são preenchidos de ar. Traduzindo, quando o diafragma desce, o ar entra.

Faça o teste de frente para um espelho, tente direcionar o ar para o tórax, elevando a clavícula, e depois para a região abdominal, sinta com as mãos a tensão que os dois tipos geram no pescoço e veja como a região dos ombros se comportam em cada um dos tipos de respiração.
 O vídeo mostra o diafragma trabalhando. Observe a 
movimentação das costelas associada ao do diafragma.

Quando a musculatura inspiratória (diafragma, intercostais, grande dorsal, etc.) é acionada, ela empurra os órgãos abaixo causando uma expansão na parte inferior do tronco para todos os lados, as costelas se abrem e, se permitirmos, o abdome “infla” (daí a ideia que alguns tem de que o ar vai para a barriga). Essa expansão na caixa toráxica reduz a pressão de ar dentro do pulmões, fazendo com que o ar que está fora do corpo (em pressão maior) entre.

O diafragma, que está abaixado, quer rapidamente voltar a sua posição de relaxamento empurrando o ar para fora, mas nós, cantores, podemos precisar desse ar dentro de nós por mais tempo que o normal, e é aí que entra a sustentação. Nesse momento os músculos intercostais e acessórios (oblíquos e abdominais) precisam trabalhar para manter tudo no lugar. Esse "apoio" dado pelos músculos intercostais (estre as costelas) e das costas terá a função de segurar a caixa aberta auxiliando no retorno controlado do diafragma para sua posição relaxada, impedindo a sobrecarga da laringe, que funciona como uma válvula para a saída aérea.

Os abdominais (barriga) entrarão em cena empurrando o meio do diafragma para cima expulsando o ar da forma desejada. Esse movimento abdominal é feito quase que inconscientemente após treinado e não pode ser exagerado, pois pode causar um grande aumento de pressão de ar contra a laringe, o que será bastante prejudicial. Portanto, a ideia de pressionar o o abdome para cantar pode ser muito perigosa, e pode ser responsável por grande parte do abuso vocal, e normalmente o é. Falei aqui do movimento abdominal para que você saiba o que acontece, mas você dificilmente precisará forçar esse movimento, ele é totalmente natural do seu corpo e ocorre normalmente quando a estrutura está bem montada.

Sobre a quantidade de ar necessária, quando  pulmão está cheio, eles fica mais pesado, e favorece o abaixamendo da traquéia (você encontra informação sobre isso procurando por Trachea Pull), diminuindo a força de fechamento das pregas vocais, auxiliando a uma emissão de ar menos comprimida, e isso pode ser pensado de acordo com a necessidade de cada frase musical e tendência de cada cantor.

Notem a necessidade de desenvolver a força (mas não enrijecer) e a coordenação de uma série de estruturas para que esse movimento seja possível e realizado de forma tranquila, algumas pessoas já o fazem naturalmente, outros precisam desenvolver esse mecanismo, e ele é facilmente gerado respeitando a necessidade de ar que a laringe possui, é ela que vai guiar quanto ar o pulmão envia, e não a força de abdome ou diafragma. Lembre-se que o abdominal faz força quando gritamos, defecamos, fazermos força, não quando cantamos, ao menos, não é necessário fazer.

Para isso a postura deve estar ereta (jamais travado) e o corpo precisa possuir resistência física para aguentar o trabalho intenso, é um comportamento novo que deve e pode ser aprendido por qualquer um. É como ir à academia, quanto mais você vai, quanto mais repete de forma correta, mais rápido ganha controle e agilidade.

Como mencionado anteriormente, é um trabalho integrado, uma parte ajuda e precisa da outra. O objetivo é a respiração livre e eficaz para o canto e o controle da emissão sonora, o método é o treino consciente e direcionado, não há truque para o sucesso, não há alento mágico, não há dicas especiais, apenas trabalho e dedicação.

A laringe vai regular a quantidade de ar necessária para cada canção ou estilo musical que estiver executando, e não o contrário, mas ela precisa da estrutura inspiratória e expiratória ajudando.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

A respiração no canto - Parte 1


O estudo do canto é recheado de temas polêmicos, isso se deve a enorme quantidade de “achismos” que essa arte sempre se envolveu e de pesquisas que vem se envolvendo de algumas décadas para cá (como descrito os tópicos postados neste blog anteriormente sobre a história da voz e do canto). Um desses assuntos que geram discussões e debates entre professores de canto e entre professores de canto e cientistas da voz, e também entre cientistas da voz, é a respiração, o uso do apoio respiratório, ou qualquer nome que ele receba.

Antes de falar da respiração no canto é importante conhecer como funciona a nossa respiração, e por mais óbvio que isso pareça, não o é.
Ela consiste basicamente e fazer o ar entrar e sair, permitindo as trocas gasosas no pulmão, oxigenando o sangue e nos mantendo vivos, e é assim que vemos a respiração normalmente, se estamos vivos é por que estamos respirando, e não precisamos pensar nisso.

Porém, no canto a respiração ganha uma outra importância. O ar é a matéria prima do nosso som, é ele que vai vibrar e ser vibrado nas pregas vocais, na laringe, e dele sairá o som que queremos produzir. Pode ser um som longo, curto, fraco, forte, estável, instável, etc. Não vai bastar permitir que o ar entre e saia apenas, é preciso permitir que isso ocorra de forma eficiente.
O ar não vai pra barriga

Existem algumas maneiras dessa respiração acontecer na fala, ela pode ser:

  1. Torácica ou clavicular: quando estufamos o peito, erguendo a clavícula e os ombros na inspiração. Está associada à fala menos expressiva e aos exercícios,como na natação,
  2. Abdominal: aquela sensação de encher a barriga quando o ar entra. Utilizamos durante o repouso ou momentos de maior relaxamento ou meditação.
  3. Costo-diafragmática-abdominal (CDA): onde costelas, até nas costas, se alargam para que o diafragma possa descer e o abdome participar do processo de suporte e sustenação do ar. De maior interesse para o canto e a voz "projetada" em geral (atores, locutores, professores, palestrantes, etc.). Uma ótima base para gerenciar se o controle de ar éeficiente.
  4. Vertebral: a parte superior da coluna vertebral é acionada. Podemos ligar aos gritos, quando até tomamos impulso com o corpo para produzir o som e já vi também acontecendo com tocadores de instrumentos como o didgeridoo, enquanto praticam a respiração circular.
  5. Mista, que mescla alguns tipos, portanto não podemos considerar como um outro tipo diferente de respiração, mas surge em momentos mais intensos, em que o corpo todo se volta para aquela ação.
Plexo solar, no ponto verde, é projetado para a frente
durante a inspiração CDA 
A respiração costo-diafragmática-abdominal (CDA) no canto é a base do que é chamado de apoio respiratório, portanto, a mais utilizada por cantores treinados, e ela pode ser encontrada com diversos nomes, diafragmático, intercostal, costo-diafragmático, costo-diafragmática-abdominal, até mesmo abdominal, dependendo da escola do professor de canto, da capacidade de propriocepção do cantor, da fonte de informação de cada um, etc. Nesse tipo de respiração, é fácil sentir o movimento na região da altura das costelas mais abaixo e também da musculatura na altura do chamado plexo solar/celíaco.

O que vai definir a maior ou menor influência desses tipos de respiração, ou tipos de "apoios respiratórios", é a necessidade. Estilos musicais mais intensos, como ópera (e dentro da ópera temos várias escolas: italiana, alemã, francesa, etc.), rock, teatro musical, sertanejo, gospel, axé, etc., demandarão maior controle de emissão de ar e intensidade da pressão que o ar exerce sob as pregas vocais (chamada pressão subglótica - Psub). A perda desse controle sobrecarrega o trabalho laríngeo (veja as postagens sobre os registros vocais e modos de fonação), dificulta a estabilidade da produção da voz e facilita a fadiga vocal (cansaço das estruturas musculares ativadas no canto), consequentemente diminuindo a vida útil do cantor. Porém, como disse que é um assunto polêmico, existem algumas correntes pedagógicas que reduzem bastante a importância do tipo da respiração sobre o canto. É um tema cheio de discussão mas que no final das contas vai depender da necessidade de cada um.

Outro benefício da respiração "baixa" é a diminuição da ansiedade. Quando queremos nos acalmar, respiramos fundo, lentamente, é a base da yoga, meditação, e demais práticas "relaxantes". A respiração lenta e profunda diminui o ritmo cardíaco, reduzindo o estresse corporal e a afobação que a respiração rápida e superficial causa. Para o canto é imprescindível estar tranquilo para uma melhor performance. Para a vida as vantagens dessa respiração são incalculáveis. Pratique-a, mesmo que não for cantor.

E sobre a questão: respirar pelo nariz ou pela boca? Pense assim: Pelo nariz o ar é filtrado, aquecido e umidificado (ótimo para as pregas vocais), pela boca não, porém a entrada de ar da boca é muito maior que a do nariz. Portanto, se estiver cantando e tiver pausas longas o suficiente para inspirar pelo nariz, ótimo, caso contrário, deixe o ar entrar silenciosamente pela boca, ou até pelos dois em conjunto. Você terá maior conforto na região do pescoço e ainda pode inspirar já preparando os ajustes do som que vai emitir.

o texto não acabou, leia a continuação clicando AQUI

sábado, 19 de maio de 2012

Postura e condiconamento físico

Como mencionei no último texto, sobre técnica vocal e canto, existem fatores físicos que devem ser trabalhados para o melhor desempenho do cantor. Postura, respiração, articulação dos sons, controle muscular laríngeo, etc. Tais elementos fazem parte da nossa vida cotidiana, mas não da mesma forma que são usados para cantar.

Vivemos em uma sociedade agitada, com horários, compromissos, metas, escritórios, cadeiras desconfortáveis, computadores, televisão, videogames, sedentarismo, má alimentação, pressa, etc. Esse estilo de vida altera nosso corpo, muda nossa postura e, consequentemente, afeta o canto.

Uma má postura desalinha a coluna cervical, modifica a posição e funcionamento dos músculos, comprime órgãos e espreme veias e artérias. O corpo é interligado, uma massa uniforme que se move em conjunto, uma tensão em determinado ponto atinge todo o resto. Um pé torto gira a perna, que movimenta a bacia, alterando a posição da coluna e dificultando a respiração. A coluna desviada pode causar diminuição do espaço do estômago e intestinos, dificultando a digestão. A má postura comprime o sistema circulatório diminuindo a oxigenação de diversas partes do corpo, inclusive do cérebro, o que piora a capacidade de aprendizagem das crianças nas escolas, por exemplo.

Os efeitos negativos disso são vários e já muito estudados, eu ficaria meses listando como pode ser danosa à vida uma postura incorreta, mas vou focar o assunto na voz, que é o que nos interessa aqui.

Falei anteriormente que para cantar é preciso desenvolver o corpo como um todo, e a postura pode ser vista como um elo de ligação entre o todo, visto que ela pode prejudicar a oxigenação do sistema fonatório, dificultando seu trabalho. Pode dificultar a respiração limitando o movimento diafragmático e abdominal (próximo texto abordará esse assunto). Pode sobrecarregar o trabalho muscular do pescoço, que está diretamente ligado à laringe e as pregas vocais e altera a posição dos articuladores da voz (mandíbula, língua, etc.) criando tensão excessiva onde deveria haver liberdade, criando o que chamamos de desvios vocais, alterações que modificam as características sonoras do nosso instrumento vocal.
Observe os desenhos acima, tente deixar seu corpo nessas posições (talvez já esteja em uma delas) e produza um som qualquer, segure a vogal “A”, por exemplo, com o corpo em cada umas dessas posições. Repare como a postura altera o som final. Ombros rígidos, coluna arqueada, joelhos travados para trás, pescoço projetado para frente, para trás, corpo apoiado em uma perna só, etc. são algumas das posições que devemos evitar.

Os danos vão muito além, como esses fatores afetam enormemente a voz, o indivíduo passa a achar que não serve para cantar, que não tem aptidão ou talento para a coisa, simplesmente pelo fato de não se atentar ao fator corporal, ou não receber instrução correta a esse respeito, gerando, somado ao problema vocal, uma perturbação psicológica que acaba desanimando a pessoa, criando barreiras e empecilhos para que ela possa fazer o que gosta.

Aí entra a importância de um bom condicionamento físico, às vezes somente atenção à postura não resolve. Aquela coisa de mãe, “senta direito menino”, nos deixa eretos por 5 segundos, e depois o corpo é “largado” de novo. Talvez seja preciso mais do que atenção, talvez seja preciso exercício físico. E nesse sentido alguns são mais indicados que outros. Esportes que concentram força nos ombros não são muito recomendados por gerar tensão nessa região, como musculação, basquete, tênis, remo, etc. Já os alongamentos, técnica de Alexander, corridas e caminhadas tendem a condicionar o corpo sem enrijecer ombros e pescoço.

Estilos musicais como o rock, teatro musical, axé, heavy metal, variantes do gospel e sertanejo, etc. podem ser bastante exigentes fisicamente, como esportes de alta performance. Para tal, o condicionamento físico é mais importante ainda, tendo efeito direto sobre a resistência vocal e respiratória do cantor, principalmente durante performances ao vivo, onde a demanda energética é grande.