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terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Você treinou, é hora de subir ao palco e cantar, então o coração dispara, as pernas tremem, e agora?

Para o primeiro texto do ano escolhi um tema bem interessante e comum.

Frequentemente ouço dos alunos que eles querem estudar, entre outras coisas, para perder o medo de cantar ou falar em público, muitos afirmam ter boa técnica vocal, mas que na hora H a voz não sai como nos treinos e ensaios. 

Quase todo artista já passou por situações desagradáveis antes de apresentações, sentindo coisas como: suor de odor forte, vontade de urinar, aumento da pulsação cardíaca, ausência ou excesso de apetite, mãos frias e úmidas, face vermelha, etc.. Muitos aceitam isso como reações naturais e aprendem a conviver com essas manifestações, sabendo que dará tudo certo no fim.

Uma pesquisa rápida pela internet vai mostrar diversos textos e vídeos dizendo que para resolver esse problema basta estar preparado e relaxar, mas será que é só isso? Em 2008 Berghs escreveu uma artigo sobre os tipos de reação que o medo de palco causa nos cantores.

O pesquisador definiu esses três tipos como sendo: desrealização mental, aumento de tono muscular e decréscimo do tono muscular, cada um desses tipos tem um efeito diferente nos cantores, e consequentemente, uma forma diferente de lidar e resolver, vamos aos tipos e como contorná-los:

Desrealização Mental: Aqui o cantor se sente desconectado da realidade, algo como um transe, em que muitas vezes sente como se estivesse fora do próprio corpo. Traduzindo, é aquele cara que está “viajando” (desconsidere essa opção quando houver substâncias estranhas envolvidas). É nesse momento que “dá o branco”, e não passa nada pela cabeça.
Se esse é o seu caso, o autor refere que alguns cantores mentalizam ordens do tipo “fique aqui”, “acorda”, (uns tapas na cara, quem sabe? hehe) etc. para conseguirem manter um estado de concentração e aumentar o nível de lucidez para a hora do show. E esse deve ser o foco, manter o estado de atenção, às vezes começando esse processo horas antes de cantar. Pensando numa ótica de funcionamento cerebral, ative o córtex frontal (responsável pela ação mais consciente) fazendo contas matemáticas e atividades que te deixem ligado. Exercícios de coordenação com mãos e pés podem ajudar.
 
Aumento de tono muscular: Esse é o famoso “travei”. É uma excitação tão grande que pode constringir o
corpo todo, incluindo ombros, pescoço, laringe, rosto, etc. Aí você já sabe o resultado disso na voz. Pessoas assim podem inspirar muito repetidamente, ficam mais falantes e a voz com mais volume, o que vai causar maior cansaço vocal e reduzir a quantidade de harmônicos no som (som de voz presa, sem brilho, sem graça). Nesse estado as notas agudas serão um martírio e o cantor pode até acelerar o andamento da música, cantando fora do tempo.
Aqui sim vale o conselho, relaxe. Faça alongamentos na cintura escapular (ombros e pescoço), tranquilize a respiração, exercícios de expiração longa (tradicionais SSS longo, ZZZ longo, etc.).

Tono muscular reduzido:Subi no parco as perna fico até bamba, sabe?”, pois é, se você já disse algo do tipo, preste atenção.
O cantor com esse tipo de reação não se mexe, a respiração fica fraca e superficial, o som soproso e sem vigor, é como se estivesse cantando com a pressão arterial em queda livre. Fica fraco e sem emoção.
Solução aqui é despertar o corpo, exercícios de inspiração profunda, mover o tronco, subir escadas, exercícios físicos (moderados, não vá se cansar), até uns pulinhos ajudam. Respirar calmamente e relaxar? Só se você quiser apagar de vez.

Entender qual tipo de reação você têm é o essencial, em tudo na vida e no canto, não existe receita pronta, não existe “isso funciona para todos”. Tente perceber qual a sua versão de “medo de palco” e aí você saberá como lutar contra ele. Fuja da tensão se você do tipo que “trava”, faça movimentos se você fica mole, “ligue” seu cérebro se você “viaja”, assim você vai conseguir se manter focado e pronto para o que deve ser feito, e o treino não será perdido por esse momento pré-show.


Em último caso, saiba que esse medo termina após as primeiras notas e a diversão começa. O importante é saber qual a melhor forma de combater os efeitos mencionados, só dizer “relaxe e respire calmamente” pode piorar as coisas e não melhorar. Cada forma de “medo” pedirá uma abordagem diferente, assim como cada forma de problema de técnica vocal.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

O talento para cantar existe?

Durante o curso de especialização em voz no CEV – Centro de Estudos da Voz, surgiu uma discussão muito interessante, na aula da renomadíssima Dra. Ingrid Gielow, sobre o talento que quero compartilhar com vocês.

Os dicionários descrevem o talento como “capacidade, distinta aptidão, habilidade natural.

Inteligência; engenho.”, ou seja, quem possui talento para algo, consegue fazer esse algo de maneira mais fácil e natural, mas de onde vem esse talento?


As religiões podem tratar desse assunto de outra maneira, mas não é minha intenção discutir isso aqui, então vou falar do ponto de vista da ciência.

Estudo feitos com músicos, mostraram que existe uma área em seus cérebros que é maior que nas outras pessoas, um tal de Giro de Heschl, podemos chamar vulgarmente como a área do talento musical na nossa mente. Sabendo disso, eles foram pesquisar por que algumas pessoas têm essas áreas maiores que as outras e descobriram que... Sim, alguns nascem com um Giro de Heschl maior que os outros, ou seja, algumas pessoas tem maior facilidade para aprender e desenvolver a capacidade musical que outras.
Cérebro dos músicos tem maior atividade na zona do Giro de Heschl
Isso quer dizer que se meu Giro de Heschl é pequeno eu nunca sou um músico ruim? N verdade, se ele é pequeno provavelmente você nem está lendo isso aqui. Se seu Giro de Heschl for pouco desenvolvido sua capacidade musical será bastante limitada, mas aí vai uma boa notícia: Você não sabe se o seu é ou não desenvolvido. Outra boa nova: O cérebro produz neurônios e cria conexões durante toda a sua vida, então, se ele não nascer "músico", você poderá fazê-lo "músico". Até os 12 anos tudo o que entrar na sua cabeça será continuado com bastante facilidade quando envelhecer, principalmente até os 7. Na barriga da mãe o bebê já começa a receber estímulos que serão refletidos em seu desenvolvimento depois.

Agora, se você quer ser músico e nunca ouviu nem o “Parabéns Pra Você” até os 40 anos, fique feliz, você também poderá aumentar essa área no seu cérebro. Tem gente que começa a cantar com 70, 80. Talvez não dê tempo de se transformar no melhor cantor do universo (talvez dê), mas certamente, se estudar de forma correta, com persistência e desenvolvendo o que precisa ser desenvolvido você poderá SIM ser um ótimo cantor, vai depender só de você.

Um bom começo é treinar o ouvido, você precisa ouvir bastante música, ver shows, assistir vídeos, isso ajuda a desenvolver referências no cérebro pra quando você for tentar fazer. A percepção auditiva está diretamente ligada à capacidade de tocar/cantar. Beethoven era surdo, mas não nasceu assim...

Resumindo, músicos têm o Giro de Heschl maior no cérebro, mas não necessariamente elas nasceram maiores, elas ficam maiores a cada treino que você faz.


Em estudo recente, de fevereiro de 2015, o pesquisador Steven Demorest comparou alunos do jardim da infância até o fim do ensino fundamental e adultos, e concluiu que a habilidade de cantar pode ser aprendida com o tempo de prática e treino, e compara com um iniciante de violino, que soa mal no começo mas depois melhora, porém, a crença de que é preciso ter um talento especial para cantar desencoraja os iniciantes qando esses não ficam felizes com o som de suas vozes no começo. Demorest diz ainda que um cantor que parar de praticar vai perder, ou diminuir, sua qualidade.
Portanto, o que a ciência nos mostra é que a frase “não nasci pra isso” é mais um dos inúmeros mitos e lendas que envolvem o canto. Falta de tempo, vontade, motivação ou incentivo podem te impedir de cantar bem, "obra do destino" não.

Sempre digo aos meus alunos que algumas pessoas tem mais facilidade para aprender que outras, mas o que muda no final das contas é o tempo e dedicação que você precisa ter. Quem tem mais facilidade aprende mais rápido, e só, isso não limita de maneira alguma quem não tem esse "talento". Por outro lado, já vi muita gente com essa facilidade se acomodar e ficar parado no tempo sendo ultrapassado por pessoas determinadas.

Pense nisso, e desenvolva seu cérebro musical, VOCÊ PODE, ACREDITE!! 

Seu maior dom é a sua vontade!!