terça-feira, 15 de maio de 2012

A história da voz e do canto - parte 1/4

Baseado em pesquisa de Hans Von Leden, François Le Huche e Glaucia Laís Salomão.

Primeiro post de uma série de textos contando um pouco da história da voz e do canto e de como o homem foi descobrindo o funcionamento vocal.

No início do conhecimento, o homem explicou os eventos à sua volta como sobrenaturais, mágicos, religiosos, e, assim como a arte, ciência, poesia, a voz também era vista da mesma forma.
Egípcios acreditavam em pulmões com poderes mágicos, mas não tinham noção de sua relação com a voz. Na antiga Babilônia (2000 a.C.) acreditavam que demônios eram os responsáveis pelas doenças (não é uma novidade de programas noturnos de TV), o demônio Namtary era o responsável por problemas na garganta.

       Demônio da Babilônia

Na Grécia Antiga os filósofos surgiram com suas observações, deixando o misticismo de lado e buscando utilizar o pensamento para entender o mundo. No século V a.C. , Hipócrates descrevia qualidades e defeitos na voz, como rouquidão, aspereza, etc., faringe e laringe eram sinônimos e ele especulou sobre o possível papel dos pulmões na voz, lábios e língua estariam envolvidos na articulação.
No século III a.C. Aristóteles foi além, percebendo que vogais e consoantes eram produzidas de forma diferente e imaginou que a voz fosse produzida na traqueia e na laringe pelo impacto do ar. Aristóteles localizava a alma no coração e pulmões, e nesta época surgiu a frase usada até hoje: “A voz é o espelho da alma”.

Nessa época não haviam notações musicais, como as que conhecemos hoje, nas partituras,muito menos registros fonográficos (CDs, LPs, MP3, etc.), portanto, não há como saber ao certo como era o canto e a música da época, mas encontramos algumas suposições baseadas em documentos encontrados, que são bem interessantes, apesar de dificilmente serem reais, ou ao menos perto da realidade.

Em Roma, no século II d.C. Caelius Aurelianos inclui um capitulo sobre rouquidão e os efeitos dos abusos vocais em seu livro médico. Mas o maior interessado em doenças da laringe foi Claudius Galeno (131 d.C.-220 d.C.), considerado o criador da laringologia (estudo da laringe). Foi o primeiro a descrever a laringe com 3 cartilagens, alguns pares de músculos, e comparou o instrumento a uma flauta, chamando a de principalissimum organum vocis.
           Ilustração de Claudius Galeno

Então veio a Idade Média (xiiii), com as revelações de padres e da Igreja Cristã, que detinha todo o conhecimento e ditava as regras. Mulheres não podiam cantar nos corais nas igrejas e homens e crianças eram responsáveis pelas vozes mais agudas.

São Brás restaurava as vias respiratórias de crianças, e até hoje em sua memória é feita a benção nas gargantas nas igrejas católicas.
O conhecimento sobre a voz humana não avançou nesta época, assim como ciência alguma, mas papas frequentemente se tornavam patronos das artes. Gregório (o do canto gregoriano), no século XVII se interessava pelo canto e o monge Guido d’Arezzo, ficou conhecido por nomear as notas musicais (Ut - originalmente no lugar de Dó - Ré, Mi, Fá, Sol, Lá, Si).

Os nomes das notas foram retirados do hino de São João Batista:
Ut queant laxis
Resonare fibris
Mira gestorum
Famulli tuorum
Solve polluit
Labii reatum
Sancti Ioannis
Tradução: "Para que os teus servos possam cantar as maravilhas dos teus atos admiráveis, absolve as faltas dos seus lábios impuros, São João”.

Tomando lugar da antiga nomenclatura A, B, C, D, E, F, G (respectivamente Lá, Si, Dó, RÉ, Etc.) que é usada ainda hoje em países de língua anglo-saxã como EUA e Alemanha (que ainda usa o H para Si e B para Si bemol, mas essa é uma outra história).

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