terça-feira, 12 de março de 2013

Código de ética do professor de canto


Infelizmente não existe uma regulamentação para o professor de canto, não existe nenhum órgão ou associação que cuide dos interesses dessa profissão, e, consequentemente, não existe nenhum código de ética ou protocolo de conduta aos que ensinam canto. O que é um absurdo.

Professores de canto são responsáveis por guiar pessoas na descoberta e desenvolvimento de suas formas de expressão. Seu trabalho envolve estimular o aluno a sentir sua voz e fortalecer, desenvolvendo o controle fino, partes de seu corpo as quais ele não estava habituado.
Um bom professor de canto vai ajudar seu estudante a “liberar sua voz” através do controle do ar, da resistência muscular na laringe pelas pregas vocais e musculaturas ao redor, e da capacidade de movimentação do trato vocal, para que o cantor sinta as ressonâncias e diferentes timbres de som.
Um bom professor será capaz de extrair sentimentos e emoções dessas técnicas e sensações fisiológicas e acústicas do seu aluno, modificando até mesmo hábitos em sua vida, sua forma de pensar, agir e responder aos estresses do dia-a-dia.
Um bom professor sabe que um trabalho mal feito pode causar frustração, traumas e muitas vezes lesões que precisarão de tratamento médico.

Deveria haver um código de ética que obriga o professor a dizer sempre a verdade ao aluno, dizer que algumas coisas são resolvidas sim em pouco tempo, mas outras precisam ser treinadas até se tornarem automáticas, e isso só vêm com treino e repetição, o que exige tempo. Alguns alunos querem “dicas e truques” antes de uma gravação ou apresentação, mas isso tem a mesma eficácia de “dicas e truques” antes de um jogo de futebol, para quem não costuma jogar.
Nada na vida é conquistado sem dedicação, de uma dieta de emagrecimento a uma carreira, seja ela qual for, você precisará de tempo e esforço, e se o fizer da forma correta, seu objetivo será conquistado.

Um professor de canto precisa de preparo e conhecimento. Não basta que o aluno cante afinado, ele precisa de muito mais, não basta saber usar o que ele aprendeu, cada aluno vai precisar de uma abordagem e de um treino diferente.

Às vezes aparecem pessoas no meu estúdio com a voz completamente comprometida, com soprosidade, rouquidão, forçadas, etc. querendo aula. Antes de pensar em cantar elas precisam ir ao laringologista e ver se está tudo bem. Muitas vezes ele precisará de tratamento fonoaudiológico, e a(o) fono pode trabalhar em conjunto com o professor de canto, orientando o quanto aquele aluno poderá ser exigido até que se recupere. Mas, muitos “profissionais”, interessados no “pagando bem, que mal tem?”, ignoram essa condição e resolvem ser médicos e “curar” a pessoa com apoio, ressonância  etc.. “Que mal tem?” Além de comprometer a vida e a profissão da pessoa?

Recentemente assisti uma "vídeo-aula" no youtube de um "professor" indicando todo tipo de medicamento para os alunos tomarem, de vitamina C a antibióticos, passando até quantos dias tomar. Entenda algo importante, professor de canto não é médico, não é otorrinolaringologista, ele precisa sim entender bastante de saúde vocal, mas não pode de jeito algum indicar tratamentos para quaisquer que sejam os problemas. Um profissional responsável, em uma situação que perceber que há alteração constante na voz, deverá direcionar o aluno ao ORL, e não passar "poções mágicas" para seus estudantes (sempre tem um "toma isso que resolve"). Claro que sempre podemos indicar coisas como: hidratação, fugir dos alimentos e condições que causem pigarro ou alergias, formas de limpar o trato vocal etc, mas medicamento NUNCA, isso é até crime.

Sem regulamentação, qualquer um pode se intitular professor de canto. Não existe um curso de formação específico. As faculdades de canto são para treinar cantores, não professores. Cursos de especialização em voz são, muitas vezes, as melhores opções para isso, pois trabalham os aspectos artísticos em conjunto com a medicina e terapia vocal, preparando o professor para diversas situações com seus alunos, sejam os saudáveis ou não.

Nos estados unidos existe a NATS (national association of teachers of singing) que tenta, mas não consegue por falta de autoridade, regular isso. Ao menos seu nome é forte e seus filiados são mais solicitados. Mas mesmo lá, qualquer um pode criar um método, publicar um livro, se dizer ótimo, vincular nomes ao seu trabalho, mas quem garante que estão corretos? Por que está escrito num livro é fato?
Lá existem cursos de formação de professores de canto em determinados métodos, mas qualquer um pode ministrá-los, assim surgem vários reinventores da roda, mas ao menos dão uma luz para quem quer se especializar. Aqui no Brasil temos pouquíssimas opções, e não há qualquer associação respeitável para tentar organizar isso.

É triste ir a um curso, simpósio, workshop, etc. que trata de voz, canto e pedagogia vocal e ver somente sempre os mesmos professores de canto. Onde estão os outros que não aparecem nos cursos específicos da área de trabalho deles? Não buscam aprimoramento e atualização?
Qualquer profissão exige esse tipo de esforço, a nossa também. Você iria a um médico que estudou pela última vez em 1950? Você contrataria um executivo de marketing que nunca ouviu falar em mídias digitais, redes sociais?

E por que faria aula com quem acha que conhaque aquece a voz? Que falsete não é voz? Que o som "sai" dos seios da face? Que diz que técnica vocal é a do canto lírico, e canto popular é grito? OU que lírico e popular podem ser cantados da mesma forma? Que belting faz mal? Que drive danifica a voz? Que se deve cantar pelo diafragma? Isso tudo demonstra falta de conhecimento e nenhuma vontade de aprender.

6 comentários:

  1. oque você indica para uma pessoa buscar ser um professor de canto ?

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    1. Raquel, com certeza o que um professor de canto tem que fazer é estudar. Ter algum professor que o auxilie, principalmente no começo, buscar informações sobre produção e funcionamento da voz, etc.
      Pode-se fazer uma faculdade de música ou de fonoaudiologia, especializações em voz, como do CEV ou da UNIFESP, mestrados, etc. Além da parte acadêmica é possível fazer cursos e workshops relacionados, e buscar sempre fontes e informações confiáveis.
      Existe uma literatura e grandes autores que podem ser consultados e grandes porcarias que podem acabar com o conhecimento de qualquer um.

      Além do embasamento teórico, é importante que o professor esteja sempre treinando e se aprimorando como cantor, mas o que vai fazer um professor bom será esse conhecimento aliado à experiência, que infelizmente só vem com o tempo, os erros e a vontade de nunca desistir e parar de aprender.

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  2. como assim a voz não ressoa nos seis para-nasaia?

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    1. Matheus, não disse que não ressoa, ela ressoa lá e participada formação de vogais e principalmente nos sons nasais. Porém, o som não é amplificado e não "sai" pelos seios da face.

      Muitos utilizam frases como "sinta a voz sair pela testa/bochecha/máscara/etc." já ouvi a região ser chamada de faringe... Alguns alunos conseguem entender essa imagem e reproduzir o som, mas muitos não conseguem e se frustram.

      É imprescindível ter mais de uma abordagem, saber explicar pro cantor o tipo de som que você espera que ele faça. Se ele resolve pelo sentido figurado, ótimo, mas e se não resolver? Ele não tem talento? Ele não serve pra cantar? Como normalmente acontece. Ou será que é o professor que está limitado em suas instruções e capacidade didática?

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  3. Antes de se contratar um profissional de canto posso querer ver uma apresentação do trabalho dele ?

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    1. Laís, não existe regra, cada profissional tem suas próprias regras, o aluno deve conhecê-las e concordar com a forma de trabalho.
      Eu ofereço uma aula teste inicial para o aluno conhecer e ver se é o que procura, e também pra eu conhecer as necessidades de cada um e poder traçar um plano de aula.

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