Olá, aqui é o Ian Gonçalves e eu vou falar sobre um tema interessantíssimo! A diferença entre 13 tipos de exercícios de trato vocal semi ocluído. Temos muitas possibilidades. Muitos tipos. O trilo de língua, trilo de lábio, o canudo de suco, canudo de pirulito, enfim, todos eles tem propriedades e reações únicas e saber o que cada um desses tem de diferente ajudará bastante na hora de escolher qual usar e quando usar.
Em 2014 foi publicado um artigo escrito por Lynn Marxfield, Ingo Titze, Eric Hunter e Mara Kapsner-Smith chamado “Intraoral pressures produced by thirteen semi-occluded vocal tract gestures”.
Em resumo, a ideia principal era medir a pressão dentro da boca entre os 13 tipos escolhidos de ETVSO (sigla para “Exercício de trato vocal semi ocluído).
Antes de ver os resultados do estudo é interessante entender um pouco mais sobre “para quê eles servem”. Os ETVSO são principalmente usados pois os efeitos principais são reduzir atrito entre as pregas vocais, estimular uma produção vocal mais saudável, estimular uma maior eficiência entre fonte-filtro e maior poder acústico com menor esforço na voz.
Além disso foi visto por Guzman numa outra pesquisa, chamada “Laryngeal and pharyngeal activity during semioccluded vocal tract postures in subjects diagnosed with hyperfunctional dysphonia. 2013” que ETVSO levam para a produção vocal uma configuração de laringe mais estável, uma abertura mais estreita do tubo epilaríngeo (gerando maior poder acústico na região em volta do 4º formante) e um espaço faríngeo mais largo (o tal do espaço que tanto pedem pra nós abrirmos pra cantar).
Falando ainda sobre esse "espaço": Pedagogicamente falando, é muito útil fazer a pessoa executar alguma escala com a bochecha cheia de ar, deixando vazar só um pouquinho de ar pelos lábios. Isso vai levar o aluno a inflar seu trato vocal enquanto canta uma melodia e vai fazê-lo sentir e perceber muito bem esse espaço.
É bastante coisa, não é? Seria muito ruim (pra um cantor e para os alunos) deixar esse tipo de técnica pra lá.
Enfim, o artigo!
O estudo da postagem de hoje é em relação aos diferentes efeitos desses exercícios na nossa voz.
O grupo de pesquisa pegou 30 exercícios diferentes para medir seus efeitos em 20 pessoas (10 homens e 10 mulheres) de diversas idades (de 20 a 72 anos). Todos eles com voz saudável e tendo feito no mínimo 1 ano de aula de canto.
Os dados foram medidos com microfone condensador, EGG e por um aparelho medidor de pressão intraoral, da Glottal Entrerprises, chamado PT-25.
Os ETVSO analisados foram os da lista abaixo, e eles já estão organizados em uma ordem de menor para maior pressão intraoral. Essa pressão é a que a pessoa irá sentir ao usar cada um destes. É a pressão que ocorre dentro da boca, que faz parte do ar voltar e inflar o trato vocal.
- /m/ (bocca chiusa)
- /n/ (bocca chiusa)
- /u/ (com biquinho)
- Vocalize com Canudo Largo
- /z/ (fricativo)
- /j/ (fricativo)
- Trilo de língua (algumas pessoas tiveram dificuldade)
- /b/ (com bochecha cheia vazando um pouco de ar)
- /v/ fricativo
- Trilo de lábios (algumas pessoas tiveram dificuldade)
- Canudo pequeno, com 3.5mm de diâmetro e 14.1 cm de comprimento
- Raspberry (vibração de língua com ela pra fora, no lábio inferior)
- Canudo comum (5mm) na água a 7cm de profundidade
Foi visto também que os valores foram diferentes entre cantores e não-cantores. Isso provavelmente se deve ao fato de que cantores treinados já possuem um controle maior da execução de cada exercício e fazem as coisas de forma mais consciente.
Segundo esse artigo, por exemplo, soprar num canudinho fino gera uma pressão maior do que fazer uma vibração de lábios.
Existe um exercício superior ao outro então? Não. Cada exercício tem um efeito específico e deve ser usado com consciência para atingir os objetivos desejados. A vibração de lábios, por exemplo, além de auxiliar na manutenção do fluxo de ar, auxilia a relaxar os músculos da face. O Raspberry ajuda a relaxar a base da língua, etc. Coisas específicas que devem ser pensadas de forma estratégica para resolver os problemas dos alunos.
Existe também uma relação dessas pressões com os modos de fonação. Por isso é muito importante estudar e se capacitar nesse assunto, pois ele costuma ser muito eficiente e resolver muita coisa. (O curso PCV, deste site, coordenado pelo Mauro Fiuza, tem um módulo inteiro de um mês só pra tratar desse assunto).
Esse artigo nos deixa evidências de que os ETVSOs variam significantemente entre eles, levantando a questão: “Qual é o melhor?”, “qual é o mais adequado para cada coisa?”, etc.
Eles são excelentes para diversos tipos de treino. Tanto para aquecimento, quanto para treino de técnica, quanto para treino de condicionamento. Se for bem usado, trará resultado reais e incríveis no trabalho vocal. Não é “só marketing” quando temos tantas evidências a favor. Nesse artigo e em outros foi mostrado como eles realmente são eficientes.
O mais importante, para o professor, é buscar algum curso que o capacite em usar esse tipo de técnica. O PCV, do Mauro Fiuza, faz isso com excelência. Entre em contato para saber sobre abertura de uma nova turma.
Nos vemos num próximo texto!
Ian Gonçalves,
@IanGGoncalves / ian.voz@icloud.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário